Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 25 de Agosto de 2024.
Além dos Engenheiros Agrónomos e Engenheiros Técnicos Agrários existe outra classe profissional de técnicos denominada de Agente Técnico Agrícola, também outrora conhecida por Feitor Agrícola. Entre 1939 e 1979, alguns madeirenses rumaram a Lisboa, mais concretamente para a Escola Prática de Agricultura D. Dinis (EPADD), na Paiã (Pontinha), na zona da Grande Lisboa, com o intuito de obterem o curso de Agente Técnico. Actualmente, este estabelecimento de ensino chama-se Escola Profissional Agrícola D. Dinis – Paiã, onde se leccionam cursos técnico-profissionais nos domínios da Agro-pecuária, indústria alimentar, jardinagem, entre outros. Antigamente, depois da conclusão da 4.ª classe (4.º ano do 1.º ciclo), os alunos que quisessem aprofundar o conhecimento técnico agro-pecuário, tinham o ensejo de prosseguir os estudos, submetendo-se a um exame de admissão na EPADD (ou na Escola Agrícola Conde de São Bento, em Santo Tirso, no Grande Porto), para ali estudar durante três anos lectivos mais um ano de estágio, com vista a obter o diploma de Feitor Agrícola. Aqueles que tinham a possibilidade de continuar a aprender mais, podiam fazê-lo, ingressando nas Escolas Agrárias para serem Regentes Agrícolas (hoje em dia designam-se de Engenheiros Técnicos Agrários). É pertinente recordar que nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado, eram poucos os Técnicos da área agrícola e, por isso, urgia formar pessoas que posteriormente colocassem o seu saber ao serviço da agricultura madeirense, quer na então Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, quer noutras instituições ligadas à agricultura e pecuária. O livro "As Visitas Técnicas e Culturais dos Agentes Agrícolas da Madeira" do Professor Doutor Aires dos Passos Vieira, com prefácio do Professor Doutor Nelson Veríssimo e editado este ano pela Secretaria Regional de Agricultura e Ambiente (actual Secretaria Regional de Agricultura, Pescas e Ambiente), regista para memória futura os encontros anuais desta classe profissional entre 1960 e 2019, portanto, durante 60 anos. O conceituado Historiador madeirense Aires dos Passos Vieira dedicou dois anos de pesquisa do livro de actas dos Agentes Técnicos Agrícolas da Madeira, enriquecendo a presente publicação com conhecimentos históricos, poemas, frases alusivas à agricultura, fotografias e quadros das localidades visitadas, quer no Arquipélago da Madeira (sobretudo visitas aos Postos Agrários e Fitossanitários), quer no Continente, e algumas vezes, igualmente, em Espanha. A obra de 200 páginas cujo lançamento acontecerá em data oportuna, está dividida em três capítulos: "Breve Historial da Agricultura na Madeira", "As Visitas Técnicas e Culturais no Arquipélago da Madeira (1960-1981)" e "As Visitas Técnicas e Culturais no Continente Português (1982-2019)".
(Direitos Reservados)
No primeiro capítulo faz-se referência ao Descobrimento do Porto Santo e da Madeira, ao povoamento, aos arroteamentos, à divisão administrativa das ilhas e aos ciclos de produção agrícola, nomeadamente os cereais, a cana sacarina, o vinho, a casquinha (casca desidratada dos citrinos posta em conserva de fruta como por exemplo a cidra), a banana, a sidra, a anona e o abacate. O segundo capítulo traz a descrição e síntese das visitas técnicas e culturais realizadas na Madeira e no Porto Santo entre 1960 e 1981, que incidiam essencialmente nos postos agrários, postos fitossanitários, viveiros e campos experimentais agrícolas e pecuários. A primeira Comissão que ficou encarregue de promover estes encontros anuais era constituída por Arnaldo Xavier Viana (Presidente), Manuel João Pita de Abreu e Francisco Sílvio de Oliveira Marques, como vogais. Entre os participantes decidiu-se que as próximas visitas teriam lugar no primeiro domingo de Junho de cada ano e que se registaria em acta o programa das mesmas, assim como os nomes dos Feitores Agrícolas presentes. Foi assim que graças a estes registos se pode fazer "As Visitas Técnicas e Culturais dos Agentes Agrícolas da Madeira". Os convívios anuais além da vertente técnica e de intercâmbio de conhecimentos, tinham também a vertente lúdica que fortalecia ano após ano o espírito de grupo e de sã camaradagem. No terceiro e último capítulo "As Visitas Técnicas e Culturais no Continente Português (1982-2019)", é dado um salto qualitativo nos encontros anuais dos Agentes Técnicos Agrícolas da Madeira (ATAM), que passaram a ter lugar em diversos locais do Continente, com passagem obrigatória pela Feira Nacional de Agricultura, em Santarém. A primeira saída da Madeira aconteceu a 4 de Junho de 1982, tendo o grupo visitado a Fábrica de Lacticínios da UCAL, a Adega Cooperativa dos Vinhos, no Cartaxo, a Feira Nacional de Agricultura, em Santarém e a Escola Prática de Agricultura D. Dinis, em Lisboa (que foi novamente visitada em 1983, 1991 e 1992). A título de curiosidade refira-se que a direcção da Escola ofereceu um almoço aos ATAM, tendo estado presente o Engenheiro Agrónomo Arnaldo Rodrigues de Sousa, natural da freguesia do Faial, concelho de Santana, e que nos anos 40 do século XX foi Director e professor daquela escola. Com o decorrer dos anos, alguns Engenheiros Agrónomos e Engenheiros Técnicos Agrários foram convidados a participar nestes encontros anuais, tendo o signatário deste artigo tido a honrosa oportunidade de viajar com os ATAM entre 2000 e 2014, onde pude constatar o esmero da organização e o convívio são entre todos os participantes.
A finalizar, e sem esquecer todos os Agentes Técnicos que contribuíram para a realização destas visitas técnicas durante seis décadas, há três nomes que foram decisivos para a sua longevidade: António Emanuel de Oliveira e Freitas (mais conhecido por Bragança), José Neves Fernandes e João Luciano dos Passos Vieira, que constituem actualmente a Comissão Directiva. E a concretização deste livro que perpetua a memória dos ATAM, só foi possível devido à determinação daquele trio de Técnicos, ao apoio financeiro da então Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural e ao saber do Professor Aires dos Passos Vieira que o sistematizou, para consulta no presente e aprofundamento no futuro de mais estudos sobre esta classe profissional que tanto fez pela Agricultura regional.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.