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O sonho de José Cardina que se tornou num Museu

por Agricultando, em 29.09.19

Este texto foi publicado no dia 29 de Setembro de 2019, no Diário de Notícias.

Nestes primeiros dias de Outono com as vindimas a caminhar para o seu fim é oportuno recordar que no Porto Santo há mais para ver e desfrutar do que o extenso areal dourado. O Museu do Cardina, localizado no Beco do Museu, Estrada Domingo de Ornelas, no sítio da Camacha, freguesia e concelho do Porto Santo, é um local que deve ser visitado ou revisitado. O seu proprietário, José Cardina Freitas Melim, funcionário da Administração dos Portos da Região Autónoma da Madeira (APRAM), a partir de 1997, começou a coleccionar diversas alfaias agrícolas e outros objectos utilizados nas indústrias artesanais, que eram abandonadas em função do seu desuso. Em 2003, constrói o edifício de formato octaédrico que se assemelha à planta dos moinhos, onde coloca a sua colecção, tornando-a acessível ao público após a inauguração levada a cabo a 25 de Agosto de 2006. Neste espaço idealizado por José Cardina encontramos no piso térreo uma secção da lavoura com o carro de bois, que servia de meio de transporte, a eira onde se triturava a palha e debulhava o trigo, o arado e as enxadas. O vinho que chegou a ser um importante sector económico da Ilha Dourada está representado por dois tipos de lagar, um mais rústico e o de fuso. As profissões de um passado não muito distante como a de ferreiro estão expostas com um fole que pertenceu aos últimos ferreiros em actividade naquela Ilha. Lá forjavam-se as enxadas, os bicos de arado e até fechaduras. A pesca artesanal também tem o seu nicho com um barco típico, canas de pesca, arpões e demais instrumentos associados àquele modo de vida. A cozinha do antigamente com o seu forno onde se cozia o pão e os móveis necessários para as refeições e a conservação dos alimentos. Ainda no rés-do-chão, revela-se a faceta de artesão de José Cardina, pois recriou fielmente réplicas de moinhos e de lagares à escala de 1:5.

No primeiro andar, os 16 fontenários outrora muito utilizados pela população porto-santense para abastecimento de água potável estão ali patentes à escala de 1:10. Estas réplicas feitas com as mesmas pedras dos originais, respeitam a traça e o mais pequeno detalhe de cada uma das estruturas, destacando-se aqui pela sua importância sobre os demais, os fontenários da Fontinha (que ainda está a funcionar), da Serra de Dentro e da Fonte da Areia. Sobre a Fonte da Areia há que relembrar que há 40 anos era um ponto de visita obrigatório, carecendo de atenção no presente, por quem de direito, no sentido da sua recuperação. Podem ver-se igualmente miniaturas de uma fornalha e utensílios de cozinha, o trilho que se usava na eira aquando da debulha dos cereais, o arado, o lagar, entre outros. E no final da visita, para prolongar a memória deste lugar único de grande homenagem aos antepassados que despenderam ao longo do tempo muito "suor, sangue e lágrimas", teimando em tornar a Ilha do Porto Santo num lugar aprazível e acolhedor, nada melhor do que comprar um par de garrafas de Vinho do Porto Santo da produção de José Cardina.

Um bem haja a este Homem que idealizou este Museu, pois só com muito amor, carinho e dedicação (e até alguma insistência, estou certo disso) é que se consegue construir algo de tão belo e significativo para que o passado não seja esquecido hoje em dia e que encha de orgulho todos aqueles que ainda estão por vir.

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