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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 26 de Maio de 2019, no Diário de Notícias.
Para quem não é do Porto Santo, só daquela Ilha praticamente se lembra quando o Verão está próximo e isso é facilmente constatável pela elevada afluência de visitantes nos meses de Julho, Agosto e Setembro. Porém, a Ilha Dourada tem muito mais para oferecer durante o ano. A iniciativa "Porto Santo Fest 2019 – Da terra com sabor" organizada pela Direcção Regional para a Administração Pública do Porto Santo (DRAPS), em parceria com a Associação Cultural e Recreativa do Porto Santo, a Associação de Produtores da Ilha do Porto Santo (APIPS) e Acção e Integração para o Desenvolvimento Global (AIDGLOBAL), que se iniciou a 25 de Abril e termina a 1 de Junho, tem como propósito incentivar a produção e o consumo locais de Janeiro a Dezembro. Na sequência de um honroso convite por parte da DRAPS e do seu Director Regional, Dr. Jocelino Velosa, tive a oportunidade de participar na sessão de abertura e na tertúlia "Valorizar o que é nosso!" como orador juntamente com outros intervenientes das áreas da produção agrícola, Prof. José Diogo, dos operadores turísticos, Nuno Silva e da restauração, Prof.ª Rafaela Melim, proprietária do Restaurante Torres e Rafaela Nunes, Chefe de Cozinha. Naquele final de tarde, foi opinião unânime que os produtos agrícolas do Porto Santo são muito importantes para a confecção dos pratos nos restaurantes, por terem um sabor diferente de outros produtos provenientes da Madeira e de outras paragens. Que é fundamental explicar sobretudo ao visitante estrangeiro em duas ou três frases as iguarias típicas, pois quase sempre ele irá escolhê-las para saborear algo que é da terra, que é diferente. A escarpiada é disso exemplo, um pão achatado feito à base de farinha de milho que se come com chicharros fritos, gaiado seco ou salada de serralha, e que tradicionalmente é grande, está a ser usado no Restaurante Torres num tamanho mais reduzido para ser servido como uma entrada e tem tido uma excelente aceitação. O voltar a introduzir leguminosas pouco exigentes em necessidades de água e outrora cultivadas naquela Ilha, como o chícharo e a lentilha, são relevantes, não só para uma diversificação gastronómica, mas igualmente paisagística, pois os campos estarão cuidados e apresentarão diferentes tonalidades no decorrer do ciclo produtivo. Além da utilização dos hortofrutícolas em fresco foi sublinhada a importância da transformação de restos de culturas como as cascas das semilhas e as grainhas da uva que podem ser aproveitadas para a elaboração de um petisco e de uma farinha, respectivamente. Em suma, tirar partido da riqueza de sabores e da composição química dos produtos agrícolas do Porto Santo ricos em cálcio, estrôncio e magnésio, com a indispensável divulgação permanente e proporcionar aos residentes e turistas momentos gastronómicos inesquecíveis e de bem-estar.
Após a sessão de abertura do "Porto Santo Fest 2019 – Da terra com sabor" foi dado destaque ao papel das abelhas em três iniciativas: na tertúlia "Proteger as abelhas – Direitos, ambiente e desenvolvimento" com os contributos do Engenheiro Francisco Faria da Direcção Regional de Agricultura, do apicultor porto-santense Henrique Rodrigues e do Engenheiro Nuno Mira da AIDGLOBAL, que teve lugar no passado dia 27 de Abril na sala de conferências da Assembleia Municipal do Porto Santo, na actividade "Abelhas: vilã ou heroína?" dirigida às escolas e o concurso "Sabores com mel do Porto Santo" aberto aos interessados que queiram preparar um prato doce ou salgado com mel da Ilha Dourada, que se realiza no dia 1 de Junho, no Campo Experimental do Farrobo. E porque é preciso que os solos tenham matéria orgânica para obtermos boas produções aconteceu no dia 4 deste mês, no Parque Florestal dos Salões, uma acção de demonstração sobre "Compostagem: dar valor à terra" que possibilitou a que cada um dos participantes no final pudesse levar para casa um compostor oferecido pela Águas e Resíduos da Madeira, pondo assim em prática a compostagem. A tertúlia "Sabores da Terra: do Local ao Global", no Restaurante Torres que se realizou no dia 11 do presente mês, contou com as intervenções do Dr. Roberto Santa Clara (Associação de Promoção da Madeira), da Dra. Bárbara Spínola (Secretaria Regional do Turismo e Cultura), de Alcides Nóbrega (Confraria Enogastronómica da Madeira) e da Dra. Sofia Lopes (AIDGLOBAL). A necessidade de divulgar e promover a gastronomia tradicional assente nos produtos locais foi consensual, tendo-se decidido a criação de um guia gastronómico a ser encetado pela DRAPS e pelo Município do Porto Santo com a colaboração da APIPS e do sector da restauração, onde o produto agrícola da Ilha será valorizado. Ontem, na Quinta da Tamargueira houve mais uma tertúlia sobre "Alternativas – Opções locais para uma transformação global", onde os participantes foram desafiados a decorar um saco de pano como incentivo a substituir este tipo de saco pelos de plástico. Nos dias 31 de Maio e 1 de Junho, no Campo Experimental do Farrobo haverá os "Sabores da Terra", constituídos por uma mostra gastronómica, pela venda de produtos locais, por animação e o concurso já mencionado. No último dia e por ser o Dia da Criança, pelas 16h00, os miúdos a partir dos 6 anos serão convidados a cozinhar com o Chefe de Cozinha Manuel Santos numa demonstração culinária, porque "é de pequenino que se torce o pepino", ou como quem diz, é de tenra idade que adquirimos valores e conhecimentos que nos serão úteis ao longo da vida.
Uma palavra de apreço às entidades que em boa hora organizaram o "Porto Santo Fest 2019 – Da terra com sabor" pois é uma iniciativa que merece a nossa atenção, seja da parte dos porto-santenses, seja daqueles que visitam a Ilha do Porto Santo.
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