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Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 30 de Julho de 2023.

Com o título genérico "Os Comeres de Antigamente", o Roteiro Gastronómico do Arquipélago da Madeira, é uma iniciativa da Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (SRA) através da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Direcção de Serviços da Ruralidade, Divisão de Dinamização e Valorização Rural, numa parceria com a Associação Atremar a Ilha. O trabalho de campo iniciado em Abril de 2022 no concelho de Santana, consistiu principalmente na recolha de receitas tradicionais junto das pessoas mais velhas, que aprenderam esses saberes com as suas mães ou avós, e que garantem desse modo a antiguidade e genuinidade das mesmas, sendo por isso, um dos objectivos do Roteiro. Estes contactos pelas freguesias contaram com a valiosa colaboração das Casas do Povo. A utilização dos produtos agrícolas locais nas receitas, muitos deles emblemáticos dos concelhos e o conhecimento mais pormenorizado de alguns amanhos culturais a estes associados norteiam igualmente este projecto. Aliás, a alimentação como um dos elementos da identidade cultural de um povo tem despertado o interesse de muitos investigadores com diversas formações académicas, com o propósito de aprofundar esse conhecimento, pelo que esta temática das receitas tradicionais tem sido tratada ao longo do tempo com outras publicações. Porém, este Roteiro Gastronómico do Arquipélago da Madeira - "Os Comeres de Antigamente" traz algo de diferente: a importância e o protagonismo dos produtos agrícolas locais e seus transformados, como garante da autenticidade de determinado pão, bolo, sopa, prato, entre outras iguarias.

comeres_de_antigamente_santana_capa_DICAs.jpg(Direitos Reservados)

No dia 1 deste mês lançou-se na sessão de abertura do XXXVIII Festival Regional de Folclore "24 Horas a Bailar", no salão nobre da Câmara Municipal de Santana, o caderno "Os Comeres de Antigamente – Santana" dedicado àquele concelho nortenho no formato em papel com uma tiragem de 1.000 exemplares, que inicia a colecção de 11 publicações (tantas quantos os concelhos do Arquipélago da Madeira) coordenada pelo signatário deste artigo, onde se poderá ler uma breve caracterização agrícola das 54 freguesias que compõem aqueles municípios, uma descrição sumária dos produtos agrícolas mais emblemáticos e dez receitas por concelho. Dada a limitação de exemplares desta publicação em livro, o leitor pode descarregar gratuitamente o caderno no formato electrónico que foi divulgado no boletim digital semanal DICAs da SRA, na passada quinta-feira. Importa mencionar que a Associação Atremar a Ilha através de Sandra Cardoso e do realizador Rui Dantas Rodrigues como parceiros de "Os Comeres de Antigamente", colaboraram no registo das receitas e de aspectos agrícolas em vídeo, que foi apresentado pela primeira vez numa versão promocional a 2 de Julho de 2022, na sessão de abertura do XXXVII Festival Regional de Folclore e na sua versão integral a 1 de Dezembro de 2022, na XXVIII Semana Cultural da Ilha. Resumidamente, Sandra interpreta o papel dela própria, como uma visitante que quer saber mais sobre a maneira de cultivar certo produto agrícola como por exemplo, no caso do concelho de Santana, o milho, e bem assim sobre o seu uso na cozinha; ajuda também na confecção dessas receitas e conversa com as pessoas que as cozinharam, para entender como e com quem aprenderam a fazer aquela receita. Agora, com o caderno em suporte de papel e no formato electrónico lançados publicamente, divulgou-se de igual modo o vídeo "Os Comeres de Antigamente – Santana", dois suportes de divulgação, que procuram ir ao encontro de quem quer experimentar as receitas e de quem se interessa pelas coisas da terra. Na próxima semana, o boletim DICAs irá disponibilizar o caderno e vídeo de "Os Comeres de Antigamente – Porto Moniz". No presente, o trabalho continua no terreno, tendo já percorrido os concelhos de São Vicente e do Porto Santo, prevendo-se ainda até ao final do ano chegar ao concelho da Calheta. Os cadernos e os vídeos destes concelhos serão oportunamente divulgados.

Em suma, "Os Comeres de Antigamente" e a combinação das três componentes, receitas tradicionais, pessoas e produtos agrícolas e pecuários locais, servem de registo para memória futura, para que os vindouros possam melhor compreender o meio onde se inserem.

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publicado às 17:21


"Madeira – A Epopeia Rural", 70 anos depois

por Agricultando, em 25.06.23

Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 25 de Junho de 2023.

O nome de Joaquim Vieira Natividade (1899-1968), ilustre Agrónomo e Engenheiro Silvicultor já aqui foi recordado algumas vezes. Natural de Alcobaça, é considerado por muitos como o Técnico que mais contribuiu para a modernização da fruticultura e da subericultura portuguesas. Da extensa lista estimada em cerca de 320 trabalhos publicados ao longo da vida, constam livros, artigos técnicos, lições, conferências, relatórios, entre outros, muitos dos quais inéditos. Dessas publicações há três dedicadas ao Arquipélago da Madeira: "Fomento da Fruticultura na Madeira" (1947) editado pela Junta Nacional das Frutas e pelo Grémio dos Exportadores de Frutos e Produtos Hortícolas da Ilha da Madeira e reeditado em 2018 pelo então Serviço de Publicações da Direcção Regional da Cultura da Madeira; "A Técnica ao Serviço do Agricultor Madeirense" (1952), palestra que fez parte do programa "A Rádio ao serviço da Agricultura" da Estação Rádio da Madeira e que foi lida por Vieira Natividade, tendo sido incluída numa separata de quatro páginas do Boletim de Informação e Publicidade da Junta dos Lacticínios da Madeira e "Madeira – A Epopeia Rural" (1953), que resultou de uma conferência que foi proferida a 22 de Junho de 1953, na Associação Industrial Portuense a convite do Centro Madeirense do Porto, cujo texto foi publicado em livro pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal e reproduzido na revista Islenha n.º 61 de Julho-Dezembro de 2017. Setenta anos depois, é sobre "Madeira – A Epopeia Rural", um dos mais belos textos acerca do Agricultor e dos seus feitos nestas Ilhas desde a descoberta até meados do século passado, que nos vamos debruçar nas próximas linhas.

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(Direitos Reservados)

«Foi essa a Madeira que Zarco e Tristão descobriram, Ilha misteriosa dos arvoredos sombrios, de rochas e de bruma, e que por esforços sobre-humanos viria a transformar-se na Ilha dos frutos e das flores, jardim do mar, horto edénico de eterna Primavera verdejante!», assim escreve Joaquim Vieira Natividade na introdução. Mais à frente afirma que «[…] Para mim, na fisionomia da Madeira, ficou sempre gravada a sua origem dolorosa e trágica, e talvez por isso é a Madeira agreste e selvosa, a Madeira da bruma e dos alcantilados cerros, rude, austera e triste, a Madeira que eu melhor sinto e compreendo porque só aí podemos entrever quanto trabalho quanto sofrimento, quanto esforço houve que despender, e quantas fadigas houve que suportar o homem, para domar os elementos insubmissos, para tornar a Ilha lânguida, hospitaleira, amiga, e para conseguir que brotassem da rocha os frutos e as flores, a riqueza e a abundância». Vieira Natividade constata que «Em muitos lugares, o trabalho multissecular do homem adoçou a primitiva bruteza da montanha. Câmara de Lobos, o Estreito, o Campanário, o Arco e o Estreito da Calheta e, na costa norte, o Porto da Cruz – gigantescos anfiteatros, alguns dos quais restos das antigas crateras demolidas pela abrasão – transformaram-se em hortejos verdejantes. […] Na vertente sul, dentro da área irrigada, a mancha incrível de retalhos, de minúsculos poios que se sobrepõem e ajustam ao sabor do relevo do solo como peças de um gigantesco puzzle, começa nas fajãs, trepa pelas falésias, assalta as encostas e as lombadas, e só cessa no alto, junto à coroa florestal, onde a água escasseia e o clima já é adverso à cultura agrícola intensiva». Na descrição da Ilha ainda acrescenta que «Para lá da Ribeira Brava até à Ponta do Pargo, extremo ocidental da Ilha, […] as culturas tropicais aninham-se nas fajãs, despojos da ruína das falésias, muitas das quais isoladas da Ilha por escarpas alterosas e que, para cúmulo do absurdo, embora ligadas à terra, só com ela comunicam pelo mar. Fajã dos Padres, Tabua, Madalena, Jardim e Paul do Mar são vergéis de bananeiras que as ondas quase beijam, exemplos incríveis da luta heróica do madeirense pela conquista da terra». Joaquim Vieira Natividade, não obstante, estar ciente que a Madeira na década de 50 do século passado já era um destino turístico, faz uma breve referência à «[…] Madeira estática, cenográfica, sorridentemente hospitaleira, a Ilha mundana que se esforça por atrair e cativar os visitantes», mas enaltece sobretudo que «[…] a Madeira é melhor do que tudo isto: é a epopeia do trabalho, a glorificação do esforço humano. Tão presente está por toda a parte a influência do homem, o fruto magnífico da sua labuta heróica, o rude afago das suas mãos calosas e ásperas, que a paisagem, por assim dizer, se embebeu dessa presença e se humanizou». Numa linguagem cinematográfica, Vieira Natividade indica que «Rochas e água, o eterno conflito do estático com o dinâmico que tragicamente se reflecte na orografia da Ilha. A água paciente, ágil, perversa, desgasta e corrói o esqueleto rochoso, hirto, impassível, severo. Como há milhares de séculos atrás, a água móvel parece empenhada em aniquilar a montanha inerte» e «[…] O milagre dos madeirenses foi harmonizar esses dois elementos hostis, tarefa ciclópica que data de há quinhentos anos, e que hoje prossegue com a mesma coragem e o mesmo ardor. […] E o homem, o pigmeu, atacou a montanha. Durante séculos não cessou o trabalho rude da picareta e da alavanca e à custa de vidas, de suor e de sangue talharam-se na rocha as gigantescas escadarias, sem que o alcantilado das escarpas, a fundura dos despenhadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Monumento este único no mundo, porque jamais em parte alguma, com tão grande amplitude, tanto esforço humano foi empregado na conquista da terra». Sobre esta alteração profunda no território, descreve com pormenor: «E o vilão ataca e tritura a rocha para a transformar em solo agrícola; geme sob o peso de enormes pedras para construir um socalco, marinha pelas falésias para conquistar um palmo de terra, mesquinha gleba pouco maior por vezes do que um ninho de águias alcandorado no pendor de uma fraga. Antes de ser agricultor, é cabouqueiro e arquitecto. Labuta de sol a sol e transforma o seu horto, a sua courela, num jardim. Onde a água corre, o agricultor heróico e operoso faz milagres; a levada empurra-o e ele empurra a levada. Novos poios se sobrepõem a outros poios, e assim esse trabalhador humilde, além de transportar sobre os ombros o peso da sua cruz, constrói nos degraus da montanha o seu próprio calvário […]».

Em suma, as sábias palavras de Joaquim Vieira Natividade remetem-nos para a proeza dos nossos antepassados em transformar a Ilha da Madeira, de vegetação exuberante, relevo inóspito e de águas caudalosas que corriam nas ribeiras, num lugar aprazível com poios e levadas, chão fértil e canais de irrigação, que permitissem tirar o sustento de quem para aqui veio em busca de um futuro melhor…

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publicado às 15:22


A Agricultura de precisão na Madeira

por Agricultando, em 28.05.23

Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 28 de Maio de 2023.

Actualmente, a digitalização, a utilização de drones, de sensores e da robótica são uma realidade nos mais diversos sectores económicos. Na agricultura, começa-se a recorrer a estas ferramentas, com o propósito de recolha dos seguintes dados: climáticos, de disponibilidade de água no solo, da avaliação do estado de desenvolvimento das plantas num determinado terreno, entre outros. Essa informação depois de ser analisada serve sobretudo para que o agricultor possa decidir melhor, se deve ou não regar e onde regar, se deve fazer certo tratamento fitossanitário para controlar uma praga ou doença, com a perspectiva de reduzir custos, mas sem comprometer a obtenção de boas produções agrícolas. A esse conjunto de tecnologia e equipamentos ao dispor do produtor, deu-se a designação de agricultura de precisão. E o que é, então? É o tipo de agricultura que procura optimizar os recursos e os factores de produção no espaço e tempo com recurso a Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica (também conhecidas pela abreviatura TICE) com o objectivo de maximizar o retorno económico de uma maneira sustentável. Sobre este tema, a 29 de Abril de 2017, no âmbito da XVI Exposição Regional do Limão, na freguesia da Ilha, concelho de Santana, o Professor Doutor Ricardo Braga do Departamento de Ciências e Engenharia de Biossistemas do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, proferiu uma conferência denominada "Agricultura de precisão: uma nova fase do sector", que despertou grande interesse. Passados cerca de seis anos, a Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (SRA) através da Escola Agrícola da Madeira, realizou no passado dia 15, Dia do Agricultor, no auditório daquela escola, em São Vicente, a conferência "Agricultura de Precisão na Região Autónoma da Madeira" que contou com o contributo de seis oradores das áreas da Biologia e das Engenharias Agronómica, Alimentar e Electrónica.

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(Direitos Reservados)

A Conferência começou com a comunicação "Alterações Climáticas na RAM" do Professor Doutor Miguel Ângelo Carvalho da Universidade da Madeira (UMa), docente e coordenador do ISOPlexis – Centro de Agricultura Sustentável e Tecnologia Alimentar, onde traçou o ponto da situação a nível mundial de acordo com os indicadores e previsões do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, suas causas e consequências. A "Estratégia Clima-Madeira" foi recordada com os cenários previstos e os impactos esperados do clima sobre a agricultura regional até ao final deste século. Apontou-se o CASBio como um exemplo de monitorização dos sistemas de produção alimentar, com indicação de possíveis impactos e necessidades de adaptação de algumas culturas e sistemas de produção ante a disponibilidade de meios e nutrientes. De seguida, a Engenheira Márcia Melim da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DRA) apresentou o "Impacto das alterações climáticas na fenologia e floração da agricultura da RAM e medidas de mitigação". Neste contexto, a Região está sujeita a uma maior vulnerabilidade das culturas frutícolas, colocando enorme pressão sobre os agricultores, pois condicionam os rendimentos dos pomares e das famílias. Exemplificou que na cerejeira e na anoneira já são visíveis os impactos climáticos na fenologia daquelas culturas e na sua produtividade, pelo que é essencial adoptar estratégias com práticas agrícolas e meios genéticos e tecnológicos que permitam atenuar e lidar com as alterações climáticas. Apesar dos efeitos negativos, estes poderão transformar-se noutras oportunidades, para a expansão em altitude de outras fruteiras como o mangueiro, fenologicamente mais adaptadas a essas mudanças. O Doutor Fábio Mendonça da UMa trouxe a "Importância da agricultura de precisão na RAM" e o conceito de Agricultura digital como uma necessidade urgente para o futuro da sociedade. Com o acréscimo da população mundial e a demanda por mais alimentos, torna-se fundamental aumentar a produção agrícola sem comprometer as gerações vindouras e procurando reduzir custos. Assim, a tecnologia desempenha um papel decisivo e a agricultura de precisão surge como uma solução prometedora que vai ao encontro dessa necessidade. Quanto à Região, este investigador defende que este tipo de agricultura vai possibilitar um emprego mais eficiente dos meios disponíveis como a água, os fertilizantes, os pesticidas de uso agrícola e a mão-de-obra. Após o intervalo a "Agricultura de precisão, utilização de drones e sensores na agricultura para monitorização e gestão das culturas" pelo Doutor Fabrício Macedo da UMa, abriu a segunda parte da conferência. A instalação de estações meteorológicas que registam a temperatura e a humidade relativa do ar além das estações meteorológicas do IPMA, permitem conhecer as condições climáticas de mais zonas da Madeira, com mais detalhe e possibilitam a tomada de decisões mais consentânea com a realidade. Deu exemplos do uso de drones e da análise de modelos de produtividade que indicam estimativas da rendimento de culturas como o milho, bem como de sensores que analisam o stress hídrico na vinha. O "Pólo de Agricultura 4.0 da RAM" pelo Engenheiro Avelino Baptista, Chefe de Divisão de Projectos Especiais da DRA, deu conta do trabalho desenvolvido nesta área. A título experimental estão a ser acompanhadas quatro explorações agrícolas localizadas no Funchal (sítio das Quebradas, freguesia de São Martinho), em Santa Cruz (freguesias de Gaula e Santo da Serra) e Calheta (freguesia do Arco da Calheta). São registados dados climáticos, de disponibilidade de água no solo por meio de estações meteorológicas e de sondas de solo, respectivamente, coadjuvadas com um drone que pode elaborar mapas georreferenciados, medir áreas de plantação, contar plantas e produzir imagens em 3D, entre outros. Com o auxílio de software de digitalização, é possível gerir de uma forma contínua e remota os dados climáticos, a rega, a fertilização, a fitossanidade e as actividades de campo. Por último, a Engenheira Alimentar Diana Corte da GESBA debruçou-se sobre a "Apresentação do Projecto Banana Sensing", um projecto-piloto a nível nacional promovido pela SRA e a GESBA com a parceria da UMa, da Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação (ARDITI) e da AlticeLabs, que pretende avaliar através de sensores e estudos agronómicos, o comportamento da bananeira ao longo do ciclo produtivo, ensaiando ainda um sistema de transporte de cachos de banana que ultrapasse as limitações decorrentes da orografia da Ilha e da falta de mão-de-obra.

Em suma, a agricultura de precisão está a dar os primeiros passos na Região e pese embora alguns custos elevados com a aquisição dos drones, das estações meteorológicas e dos sensores e do software que trata os dados recolhidos, é o caminho a trilhar, atraindo para a agricultura, jovens de outras áreas do conhecimento que recorrem às tecnologias de informação, comunicação e electrónica.

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publicado às 16:53

Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 30 de Abril de 2023.

Ao longo do tempo surgiram publicações e secções periódicas sobre a agricultura do Arquipélago da Madeira, das quais já demos conta de algumas nesta página como o boletim "Frutas da Madeira" e "Agricultura Regional" (no Diário de Notícias da Madeira) publicados entre Abril de 1941 e Janeiro de 1958 e 15 de Julho de 1989 e 26 de Junho de 1993, respectivamente. Hoje, recuperamos o "Suplemento Agrícola" do Boletim Distrital editado pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal de Janeiro de 1958 a Dezembro de 1972, pelo que nos foi dado a conhecer. No "Editorial" do número 1 de Janeiro de 1958 lê-se que «Com o presente número se dá início à publicação do Suplemento Agrícola, do Boletim Distrital, o qual tem por objectivo: vulgarizar conhecimentos úteis aos agricultores e informar da actividade dos serviços agrícolas e pecuários do distrito». Os Técnicos da Estação Agrária da Madeira e da Intendência de Pecuária do Funchal contribuíam com artigos técnicos dedicados aos agricultores, no sentido de melhorar o seu desempenho na exploração agrícola. A "Adubação da vinha", os "Principais cuidados na plantação das árvores de fruto", "Conselhos aos avicultores" e "Campanha de Sanidade Pecuária" foram os textos que deram forma ao número de estreia com quatro páginas. A divulgação dos serviços prestados pelos Postos Agrários e Núcleos de Sanidade Vegetal distribuídos pelas Ilhas da Madeira e do Porto Santo era regularmente feita no suplemento, com o intuito de transmitir atempadamente aos interessados a realização de determinados amanhos culturais como podas, enxertias e tratamentos fitossanitários, bem como da existência de serviços de assistência técnica apícola.

Suplemento_Agricola_B_Dist_JGDAF_n_1_capa_DR_blogu(Direitos Reservados)

Dos Técnicos que colaboraram com o "Suplemento Agrícola" destacam-se os Engenheiros Agrónomos António Teixeira de Sousa, então Presidente da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, Rui Vieira e Renato Gouveia da Estação Agrária da Madeira, Engenheiro Técnico Agrário Francisco Xavier e do Médico Veterinário, Dr. Carlos França Dória. Ao lermos os suplementos ficamos com uma ideia das culturas, pragas e doenças e das práticas culturais mais importantes, da alimentação dos animais de criação, das suas doenças e tratamentos, assim como da execução de ensaios experimentais e de eventos naquela época. A introdução de novas variedades de hortícolas como a semilha, o tomate, entre outras, de fruteiras, em especial de pessegueiro e de vinha realizavam-se com alguma frequência. Depois de serem observadas nos postos agrários durante algum tempo e consoante a sua adaptação às condições climáticas e de solo locais, eram recomendadas aos agricultores, no sentido de aumentar a qualidade e o rendimento. A floricultura, dada a sua importância económica e ornamental presente nos quintais das casas, teve destaques exclusivos nesta publicação como foi o caso da cultura das orquídeas, antúrios, roseiras, estrelícias, entre outras. A cana-de-açúcar e o tratamento contra o "bicho" da cana com Endrin no final da década de 50, início da década de 60 do século passado, um insecticida muito tóxico que mais tarde foi retirado dada a sua elevada perigosidade para o aplicador. As adubações das hortícolas, árvores de fruto e da vinha e a correcção da acidez dos solos com a aplicação do calcário moído. A produção de árvores de fruto nos viveiros da Estação Agrária da Madeira para depois serem vendidas a preços simbólicos e algumas entregues gratuitamente como medida de incentivo ao plantio. As tosquias das ovelhas no mês de Junho foi notícia de relevo e era no Paul da Serra que se verificavam as maiores concentrações de animais, proporcionando um convívio dos pastores e proprietários do gado e familiares, num ambiente de autêntico arraial. A produção de queijo de ovelha e o aproveitamento do leite que não tinha uso, foi motivo de regozijo por este ter «[…] o aspecto e o sabor do tão característico "queijo da Serra", produzido no Continente». A Exposição e Feira de Gado do Porto Moniz (actual Feira Agro-pecuária do Porto Moniz), a Feira de Gado em Santana, a Feira de Gado da Ponta do Sol (na freguesia dos Canhas) e a Feira de Gado em São Vicente, que aconteceram pela primeira vez a 19 de Agosto de 1962, a 6 de Julho de 1963 e a 11 de Agosto de 1963, respectivamente, demonstram bem a pujança que a pecuária regional tinha há cerca de 60 anos. A título de curiosidade o "Suplemento Agrícola" de Julho de 1963 realçava o I Curso de Condutores de Motocultivadores, o que revela que os serviços oficiais já estavam atentos à necessidade de modernizar e mecanizar a agricultura regional. O número 139 de Julho de 1969 noticiava a realização do primeiro curso de aplicação de plásticos na agricultura a nível nacional, e ministrado pelo Engenheiro Agrónomo Cláudio Bugalho Semedo do Jardim Agrícola do Ultramar, na Quinta do Bom Sucesso (actual Jardim Botânico da Madeira – Engenheiro Rui Vieira). Por outras palavras, tratava-se de divulgar a utilização de plásticos para cobrir o solo, a construção de abrigos, túneis, estufas, reservatórios de água, rega, drenagem, entre outros.

À distância de mais de 50 a 60 anos, não obstante uma ou outra informação que se desactualizou, é notável encontrarmos textos que mostram uma certa visão do futuro que é o presente, o que desperta a consulta e leitura atentas.

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publicado às 14:50

Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 26 de Março de 2023.

Neste mês em que se assinalou a 32.ª edição da Exposição Regional da Anona nos dias 11 e 12, na freguesia do Faial, concelho de Santana, vem bem a propósito divulgar uma publicação técnica sobre a "A Polinização Manual na Cultura da Anoneira" (disponível em https://dica.madeira.gov.pt/images/DICA/2023/519/polinizacao_manual_anona_V_DICAs.pdf). A anoneira é uma fruteira de clima subtropical oriunda dos vales da Cordilheira dos Andes do Peru e Equador, que encontrou óptimas condições de desenvolvimento na Ilha da Madeira. Tudo indica que se trouxeram sementes de anona do Peru para a Região, por volta de 1600, e que estas medraram com facilidade. No decorrer dos tempos, as condições climáticas de temperatura e humidade relativa do ar, quer da costa sul quer da costa norte da Madeira, embora com diferentes limites de altitude máxima nas duas vertentes, promoviam na fase da floração, a auto-polinização, dando-se a fecundação e posterior vingamento dos frutos. Todavia, nos últimos 12 anos, assistimos a alterações climáticas locais, nomeadamente da temperatura e dos teores de humidade relativa do ar inferiores a 60-70%, com maior impacto nos mais recentes seis anos, que diminuiu substancialmente a auto-polinização e por consequência o vingamento do fruto. Desse modo, tornou-se quase obrigatória a aplicação da técnica da polinização manual na anoneira, na Ilha da Madeira, para que se tenha produção, amanho cultural que sempre foi tido em conta em Espanha e no Chile, dois dos maiores produtores mundiais de anona. Assim, a Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural através da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural e da Direcção de Serviços de Desenvolvimento Agronómico/Divisão de Assistência Técnica Agronómica elaboraram um folheto técnico sobre "A Polinização Manual na Cultura da Anoneira".

Com o objectivo de adaptar-se às limitações decorrentes das alterações climáticas, a publicação da autoria do Director de Serviços de Desenvolvimento Agronómico, Engenheiro Agrónomo Rui Nunes, da Engenheira Agrícola Aurélia Sena e demais equipa, explica detalhadamente através da técnica da polinização manual, como obter mais produção, qualidade e rendimento, com frutos maiores e uniformes (preferencialmente em forma de coração), bem como quando combinada com a poda, ter a possibilidade de dispor de uma época de apanha escalonada ou mais concentrada no tempo, de acordo com o interesse do produtor em relação ao mercado. Atendendo que a intervenção é feita na flor da anoneira, importa saber que esta é hermafrodita, isto é, tem os dois sexos, a parte feminina e a parte masculina. Contudo, a flor tem um comportamento dicogâmico protogínico, ou seja, a parte feminina está receptiva ao pólen, mas a parte masculina ainda não está funcional. Só em determinadas condições de temperatura e de humidade relativa do ar é que há a sobreposição da maturidade sexual das partes feminina e masculina na mesma flor, ocorrendo assim a auto-polinização e posterior vingamento. A flor apresenta três fases distintas: estado pré-feminino, estado feminino e estado masculino. Permanece aberta entre 28 e 36 horas, das quais dois terços correspondem primeiro ao estado feminino, depois da abertura até ao meio-dia do dia seguinte, e um terço no estado masculino, que acontece sempre a partir das três às quatro horas da tarde. Para executar a polinização manual de uma forma cómoda e prática, é necessário que os pomares de anoneira sejam podados, por forma a que as árvores tenham um porte baixo até uma altura de 2 metros e meio. Na polinização manual são precisos dois passos: recolher o pólen e polinizar as flores que estão no estado feminino. A recolha do pólen pode ser feita em flores no estado feminino ou masculino, mas quer uma quer outra, pressupõe dois dias, o primeiro para a recolha e o segundo para a sua aplicação em flores no estado pré-feminino ou feminino. Nestes trabalhos é recomendado o uso de um pincel redondo números 3 ou 4, com pelos suaves, que se adquire numa papelaria ou numa loja de artigos de pintura e desenho. Nos ramos da anoneira, deve dar-se preferência às flores que se encontram mais perto da sua base, distanciadas 15 a 20 centímetros, de acordo com o vigor dos ramos. A título orientativo, e para que haja equilíbrio entre a carga de flores a polinizar e o vigor e idade da árvore, podemos considerar cerca de 200 a 250 flores para uma anoneira de 8 a 10 anos de idade, e de 250 a 450 flores para árvores com mais de 10 anos de idade, com distribuição uniforme pela copa. Uma vez que a polinização manual garante uma produção elevada e regular, o produtor deve realizar as podas, regas e fertilizações (no solo e foliares) para que a árvore possa suportar capazmente o número de frutos.

Para obter mais informações sobre esta importante prática cultural decisiva para conseguir uma boa produção de anona, consulte o folheto em apreço ou contacte a Divisão de Assistência Técnica Agronómica, localizada no Caminho das Voltas, n.º 11 (acima do Jardim Botânico da Madeira – Eng.º Rui Vieira), no Bom Sucesso, no Funchal ou através do telefone 291211260.

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publicado às 15:07


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