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Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 24 de Setembro de 2023.

No mês passado trouxe a esta página um artigo de opinião do Engenheiro Agrónomo Rui Vieira com o título "O panorama da Agricultura madeirense", publicado no Jornal da Madeira a 1 de Maio de 1963, portanto, há 60 anos. Agora, com recurso à publicação "Estatísticas da Agricultura e Pesca da Região Autónoma da Madeira – 2022" divulgada em Junho pela Direcção Regional de Estatística da Madeira e disponível no seu portal, é tempo de actualizar os números relativos à Agricultura regional. De acordo com o Recenseamento Agrícola 2019 (RA 2019), o Arquipélago da Madeira tinha naquele ano, 13.534 explorações agrícolas e uma Superfície Agrícola Utilizada (SAU) de 4.604,4 hectares. Ao compararmos estes números com os registados no Recenseamento anterior de 2009 (RA 2009), houve uma diminuição ligeira de 0,6 por cento no número de explorações (menos 77 explorações que em 2009) e uma redução da SAU na ordem dos 15 por cento (menos 824 hectares que em 2009). Há seis décadas, no texto do Engenheiro Rui Vieira, a área agrícola indicada era de quase 20.000 hectares, em que 50.000 pessoas (metade da população activa de então) se dedicavam à actividade agrícola e pecuária. Nas culturas temporárias, isto é, aquelas cujo ciclo vegetativo não vai além de um ano, as anuais, e as que são ressemeadas com intervalos que não ultrapassam os cinco anos, no RA 2019 verificaram-se 1.604 hectares por oposição aos 2.173 hectares registados no RA 2009 (menos 26,2 por cento). A diminuição da área de semilha [regionalismo madeirense para batata] em cultura extensiva (sem estar em rotação com as hortícolas) foi a principal razão para aquele abatimento. Por outro lado, a superfície de cana-de-açúcar passou de 114,9 hectares (em 2009) para 173,5 hectares (em 2019), ou seja, mais 51 por cento. Nas culturas permanentes (frutos de climas temperado e subtropical, citrinos, vinha, entre outras), a área em 2019 era de 2.322,4 hectares, enquanto em 2009 era de 2.482,4 hectares (menos 6,4 por cento). Isto deveu-se à redução da superfície da vinha de castas europeias e dos produtores directos (uva americana, "jaqué", "canim", entre outras), pese embora este decréscimo tenha sido atenuado pelo aumento da área dos frutos subtropicais, em especial, da banana.

Agricultura_drem_2022_capa.jpg
(Direitos Reservados)

Segundo os números estimados pela Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural para o ano de 2022, constatamos que nas culturas temporárias, a semilha, a cana sacarina, a batata-doce e a cebola foram as quatro primeiras culturas com 755, 174, 431 e 136 hectares, e 21.849, 10.048, 7.653 e 3.932 toneladas, respectivamente. Se confrontarmos os dados de produção com o ano de 2021, a semilha e a cebola tiveram diminuições na ordem dos 15,8 por cento (menos 4.095 toneladas) e 10 por cento (menos 437 toneladas), respectivamente, ao passo que a cana-de-açúcar e a batata-doce aumentaram os seus quantitativos para 9,2 por cento (mais 845 toneladas) e 0,1 por cento (mais 11 toneladas), respectivamente. Nas culturas permanentes e em relação ao ano passado, a banana, a vinha (castas europeias e uva de mesa), a maçã regional e o limão, ocupavam 874, 403, 108 e 64 hectares, e atingiram 23.892, 4.032, 1.391 e 869 toneladas, respectivamente. Por comparação com 2021, verificamos aumentos neste quarteto de culturas na ordem dos 12,6 por cento (mais 2.673 toneladas de banana), 1,3 por cento (mais 50 toneladas de uva), 1,8 por cento (mais 24 toneladas de maçã regional) e 5,3 por cento (mais 44 toneladas de limão). Este sobe-e-desce de áreas e produções agrícolas está relacionado com factores de natureza interna (da Região) e externa (as produções que vêm de fora a preços competitivos). Voltando ao artigo do Engenheiro Rui Vieira escrito há 60 anos, onde apresentava algumas sugestões para melhorar a Agricultura madeirense, aquele distinto Agrónomo defendia o emparcelamento, tal como tinha acontecido no Continente na década de 60 do século XX, para que houvesse um acréscimo de áreas agricultáveis e permitisse a mecanização agrícola para fazer face à falta de mão-de-obra. Sabemos que esta medida de ordenamento do território que não vingou na altura, é de difícil aplicação, pois é preciso proceder à permuta de propriedades vizinhas para que se tenha uma única propriedade em vez de ter parcelas dispersas, algo a que o madeirense é avesso por motivos sobretudo sentimentais em relação aos seus terrenos. Rui Vieira apontava ainda que o sector do Turismo seria uma solução para o escoamento dos produtos agrícolas. Porém, salvo algumas excepções, a realidade é que a Agricultura madeirense dá mais ao sector do Turismo em produtos e pela singular paisagem agrícola insular do que o inverso. É preciso mudar mentalidades e valorizar o que temos cá e não os produtos agrícolas importados cuja pegada ecológica é sempre maior com as consequências conhecidas por todos.

Cabe igualmente a cada um de nós que no dia-a-dia se dê preferência aos hortofrutícolas locais e da época, por serem mais frescos e de grande qualidade, contribuindo desse modo para a manutenção e até crescimento das áreas agrícolas e a fixação de pessoas no meio rural, já de si despovoado. Façamos a nossa parte como consumidores responsáveis!

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publicado às 14:54


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