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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 28 de Maio de 2023.
Actualmente, a digitalização, a utilização de drones, de sensores e da robótica são uma realidade nos mais diversos sectores económicos. Na agricultura, começa-se a recorrer a estas ferramentas, com o propósito de recolha dos seguintes dados: climáticos, de disponibilidade de água no solo, da avaliação do estado de desenvolvimento das plantas num determinado terreno, entre outros. Essa informação depois de ser analisada serve sobretudo para que o agricultor possa decidir melhor, se deve ou não regar e onde regar, se deve fazer certo tratamento fitossanitário para controlar uma praga ou doença, com a perspectiva de reduzir custos, mas sem comprometer a obtenção de boas produções agrícolas. A esse conjunto de tecnologia e equipamentos ao dispor do produtor, deu-se a designação de agricultura de precisão. E o que é, então? É o tipo de agricultura que procura optimizar os recursos e os factores de produção no espaço e tempo com recurso a Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica (também conhecidas pela abreviatura TICE) com o objectivo de maximizar o retorno económico de uma maneira sustentável. Sobre este tema, a 29 de Abril de 2017, no âmbito da XVI Exposição Regional do Limão, na freguesia da Ilha, concelho de Santana, o Professor Doutor Ricardo Braga do Departamento de Ciências e Engenharia de Biossistemas do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, proferiu uma conferência denominada "Agricultura de precisão: uma nova fase do sector", que despertou grande interesse. Passados cerca de seis anos, a Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (SRA) através da Escola Agrícola da Madeira, realizou no passado dia 15, Dia do Agricultor, no auditório daquela escola, em São Vicente, a conferência "Agricultura de Precisão na Região Autónoma da Madeira" que contou com o contributo de seis oradores das áreas da Biologia e das Engenharias Agronómica, Alimentar e Electrónica.
(Direitos Reservados)
A Conferência começou com a comunicação "Alterações Climáticas na RAM" do Professor Doutor Miguel Ângelo Carvalho da Universidade da Madeira (UMa), docente e coordenador do ISOPlexis – Centro de Agricultura Sustentável e Tecnologia Alimentar, onde traçou o ponto da situação a nível mundial de acordo com os indicadores e previsões do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, suas causas e consequências. A "Estratégia Clima-Madeira" foi recordada com os cenários previstos e os impactos esperados do clima sobre a agricultura regional até ao final deste século. Apontou-se o CASBio como um exemplo de monitorização dos sistemas de produção alimentar, com indicação de possíveis impactos e necessidades de adaptação de algumas culturas e sistemas de produção ante a disponibilidade de meios e nutrientes. De seguida, a Engenheira Márcia Melim da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DRA) apresentou o "Impacto das alterações climáticas na fenologia e floração da agricultura da RAM e medidas de mitigação". Neste contexto, a Região está sujeita a uma maior vulnerabilidade das culturas frutícolas, colocando enorme pressão sobre os agricultores, pois condicionam os rendimentos dos pomares e das famílias. Exemplificou que na cerejeira e na anoneira já são visíveis os impactos climáticos na fenologia daquelas culturas e na sua produtividade, pelo que é essencial adoptar estratégias com práticas agrícolas e meios genéticos e tecnológicos que permitam atenuar e lidar com as alterações climáticas. Apesar dos efeitos negativos, estes poderão transformar-se noutras oportunidades, para a expansão em altitude de outras fruteiras como o mangueiro, fenologicamente mais adaptadas a essas mudanças. O Doutor Fábio Mendonça da UMa trouxe a "Importância da agricultura de precisão na RAM" e o conceito de Agricultura digital como uma necessidade urgente para o futuro da sociedade. Com o acréscimo da população mundial e a demanda por mais alimentos, torna-se fundamental aumentar a produção agrícola sem comprometer as gerações vindouras e procurando reduzir custos. Assim, a tecnologia desempenha um papel decisivo e a agricultura de precisão surge como uma solução prometedora que vai ao encontro dessa necessidade. Quanto à Região, este investigador defende que este tipo de agricultura vai possibilitar um emprego mais eficiente dos meios disponíveis como a água, os fertilizantes, os pesticidas de uso agrícola e a mão-de-obra. Após o intervalo a "Agricultura de precisão, utilização de drones e sensores na agricultura para monitorização e gestão das culturas" pelo Doutor Fabrício Macedo da UMa, abriu a segunda parte da conferência. A instalação de estações meteorológicas que registam a temperatura e a humidade relativa do ar além das estações meteorológicas do IPMA, permitem conhecer as condições climáticas de mais zonas da Madeira, com mais detalhe e possibilitam a tomada de decisões mais consentânea com a realidade. Deu exemplos do uso de drones e da análise de modelos de produtividade que indicam estimativas da rendimento de culturas como o milho, bem como de sensores que analisam o stress hídrico na vinha. O "Pólo de Agricultura 4.0 da RAM" pelo Engenheiro Avelino Baptista, Chefe de Divisão de Projectos Especiais da DRA, deu conta do trabalho desenvolvido nesta área. A título experimental estão a ser acompanhadas quatro explorações agrícolas localizadas no Funchal (sítio das Quebradas, freguesia de São Martinho), em Santa Cruz (freguesias de Gaula e Santo da Serra) e Calheta (freguesia do Arco da Calheta). São registados dados climáticos, de disponibilidade de água no solo por meio de estações meteorológicas e de sondas de solo, respectivamente, coadjuvadas com um drone que pode elaborar mapas georreferenciados, medir áreas de plantação, contar plantas e produzir imagens em 3D, entre outros. Com o auxílio de software de digitalização, é possível gerir de uma forma contínua e remota os dados climáticos, a rega, a fertilização, a fitossanidade e as actividades de campo. Por último, a Engenheira Alimentar Diana Corte da GESBA debruçou-se sobre a "Apresentação do Projecto Banana Sensing", um projecto-piloto a nível nacional promovido pela SRA e a GESBA com a parceria da UMa, da Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação (ARDITI) e da AlticeLabs, que pretende avaliar através de sensores e estudos agronómicos, o comportamento da bananeira ao longo do ciclo produtivo, ensaiando ainda um sistema de transporte de cachos de banana que ultrapasse as limitações decorrentes da orografia da Ilha e da falta de mão-de-obra.
Em suma, a agricultura de precisão está a dar os primeiros passos na Região e pese embora alguns custos elevados com a aquisição dos drones, das estações meteorológicas e dos sensores e do software que trata os dados recolhidos, é o caminho a trilhar, atraindo para a agricultura, jovens de outras áreas do conhecimento que recorrem às tecnologias de informação, comunicação e electrónica.
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