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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 26 de Março de 2023.
Neste mês em que se assinalou a 32.ª edição da Exposição Regional da Anona nos dias 11 e 12, na freguesia do Faial, concelho de Santana, vem bem a propósito divulgar uma publicação técnica sobre a "A Polinização Manual na Cultura da Anoneira" (disponível em https://dica.madeira.gov.pt/images/DICA/2023/519/polinizacao_manual_anona_V_DICAs.pdf). A anoneira é uma fruteira de clima subtropical oriunda dos vales da Cordilheira dos Andes do Peru e Equador, que encontrou óptimas condições de desenvolvimento na Ilha da Madeira. Tudo indica que se trouxeram sementes de anona do Peru para a Região, por volta de 1600, e que estas medraram com facilidade. No decorrer dos tempos, as condições climáticas de temperatura e humidade relativa do ar, quer da costa sul quer da costa norte da Madeira, embora com diferentes limites de altitude máxima nas duas vertentes, promoviam na fase da floração, a auto-polinização, dando-se a fecundação e posterior vingamento dos frutos. Todavia, nos últimos 12 anos, assistimos a alterações climáticas locais, nomeadamente da temperatura e dos teores de humidade relativa do ar inferiores a 60-70%, com maior impacto nos mais recentes seis anos, que diminuiu substancialmente a auto-polinização e por consequência o vingamento do fruto. Desse modo, tornou-se quase obrigatória a aplicação da técnica da polinização manual na anoneira, na Ilha da Madeira, para que se tenha produção, amanho cultural que sempre foi tido em conta em Espanha e no Chile, dois dos maiores produtores mundiais de anona. Assim, a Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural através da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural e da Direcção de Serviços de Desenvolvimento Agronómico/Divisão de Assistência Técnica Agronómica elaboraram um folheto técnico sobre "A Polinização Manual na Cultura da Anoneira".
Com o objectivo de adaptar-se às limitações decorrentes das alterações climáticas, a publicação da autoria do Director de Serviços de Desenvolvimento Agronómico, Engenheiro Agrónomo Rui Nunes, da Engenheira Agrícola Aurélia Sena e demais equipa, explica detalhadamente através da técnica da polinização manual, como obter mais produção, qualidade e rendimento, com frutos maiores e uniformes (preferencialmente em forma de coração), bem como quando combinada com a poda, ter a possibilidade de dispor de uma época de apanha escalonada ou mais concentrada no tempo, de acordo com o interesse do produtor em relação ao mercado. Atendendo que a intervenção é feita na flor da anoneira, importa saber que esta é hermafrodita, isto é, tem os dois sexos, a parte feminina e a parte masculina. Contudo, a flor tem um comportamento dicogâmico protogínico, ou seja, a parte feminina está receptiva ao pólen, mas a parte masculina ainda não está funcional. Só em determinadas condições de temperatura e de humidade relativa do ar é que há a sobreposição da maturidade sexual das partes feminina e masculina na mesma flor, ocorrendo assim a auto-polinização e posterior vingamento. A flor apresenta três fases distintas: estado pré-feminino, estado feminino e estado masculino. Permanece aberta entre 28 e 36 horas, das quais dois terços correspondem primeiro ao estado feminino, depois da abertura até ao meio-dia do dia seguinte, e um terço no estado masculino, que acontece sempre a partir das três às quatro horas da tarde. Para executar a polinização manual de uma forma cómoda e prática, é necessário que os pomares de anoneira sejam podados, por forma a que as árvores tenham um porte baixo até uma altura de 2 metros e meio. Na polinização manual são precisos dois passos: recolher o pólen e polinizar as flores que estão no estado feminino. A recolha do pólen pode ser feita em flores no estado feminino ou masculino, mas quer uma quer outra, pressupõe dois dias, o primeiro para a recolha e o segundo para a sua aplicação em flores no estado pré-feminino ou feminino. Nestes trabalhos é recomendado o uso de um pincel redondo números 3 ou 4, com pelos suaves, que se adquire numa papelaria ou numa loja de artigos de pintura e desenho. Nos ramos da anoneira, deve dar-se preferência às flores que se encontram mais perto da sua base, distanciadas 15 a 20 centímetros, de acordo com o vigor dos ramos. A título orientativo, e para que haja equilíbrio entre a carga de flores a polinizar e o vigor e idade da árvore, podemos considerar cerca de 200 a 250 flores para uma anoneira de 8 a 10 anos de idade, e de 250 a 450 flores para árvores com mais de 10 anos de idade, com distribuição uniforme pela copa. Uma vez que a polinização manual garante uma produção elevada e regular, o produtor deve realizar as podas, regas e fertilizações (no solo e foliares) para que a árvore possa suportar capazmente o número de frutos.
Para obter mais informações sobre esta importante prática cultural decisiva para conseguir uma boa produção de anona, consulte o folheto em apreço ou contacte a Divisão de Assistência Técnica Agronómica, localizada no Caminho das Voltas, n.º 11 (acima do Jardim Botânico da Madeira – Eng.º Rui Vieira), no Bom Sucesso, no Funchal ou através do telefone 291211260.
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