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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 25 de Dezembro de 2022.
Neste dia de Natal, caro leitor, provavelmente está a ler este artigo na mesa onde partilhou o almoço com a família, e por isso, nada melhor que escrever sobre a iniciativa "À Volta da Mesa" promovida pela Associação Atremar a Ilha. Como objectivos deste projecto que teve o apoio da Secretaria Regional de Turismo e Cultura através da Direcção Regional da Cultura, pretende-se recuperar tradições e costumes da identidade madeirense e que estão ligadas à gastronomia regional. As receitas familiares e as histórias de vida de quem as confeccionou, são os "ingredientes" principais de uma série de sete episódios conduzida pela Sandra Cardoso, com a realização de Rui Dantas Rodrigues e banda sonora de André Santos. O "saber-fazer" das sete mulheres que apresentam outras tantas receitas, foi aprendido pela passagem de conhecimento da geração mais velha, sobretudo mães e avós, para a geração mais nova, as filhas. Na noite do dia 17 de Novembro, perante uma plateia esgotada, foi exibido na sala 5 dos Cinemas Cineplace do Madeira Shopping, um filme que mostra de uma forma resumida aquilo que se poderá ver na série. Esta será divulgada a partir do mês de Março de 2023, na página de Facebook e no canal YouTube de "A Biqueira". Além destas exibições na internet, vai ser criado um documentário com o intuito de poder vir a concorrer em Festivais de Cinema e ser apreciado pelas comunidades madeirenses, bem como pelas populações dos concelhos da Região, em salas mais pequenas.
(Direitos Reservados)
O Pão das Couves e o Bolo do Lar são receitas oriundas do sítio da Santa, freguesia e concelho do Porto Moniz. No primeiro episódio, Madalena Furriel, apesar de estar emigrada, não esquece a sua terra natal nem os comeres de outrora, e faz questão de explicar detalhadamente como é que se prepara um pão feito na sopa, o Pão das Couves. No segundo episódio, a Sopa de Chícharo cozinhada por Diva Freitas, da freguesia da Quinta Grande, concelho de Câmara de Lobos, recorda os ensinamentos sobre o Bordado Madeira que a sua mãe transmitiu e a comida feita no lar pela sua tia-avó. Em tempo, o chícharo era cultivado naquela localidade, estando mais recentemente a ser recuperado pelos agricultores por via da Mostra Regional do Trigo e do Chícharo organizada pela Casa do Povo local. A título de curiosidade e embora não conste do episódio, é oportuno dizer-se que o chícharo também foi cultivado no Porto Santo e que se confecciona uma sopa de chícharo, certamente com algumas diferenças em relação à sua homóloga madeirense. O Bucho de Atum, receita da freguesia e concelho de Câmara de Lobos, dada a conhecer por Leonita Freitas no terceiro episódio, demonstra que no tempo em que pouco havia, muito se fazia. No quarto episódio, ruma-se a norte, mais concretamente a São Vicente, para saber mais sobre o cuscuz. Fátima de Gouveia, do sítio dos Lameiros, freguesia e concelho de São Vicente, foi moça de casa alheia e assim foi a sua vida, a servir os outros. Agora, com a idade que tem, conta com a ajuda dos vizinhos que é como se fossem família, para fazer cuscuz. Os quinto e sexto episódios trazem o Pão Doce e o Pudim de Veludo, respectivamente. Do sítio do Rochão, freguesia da Camacha, concelho de Santa Cruz, Blandina Baptista diz que aprendeu a cozer o Pão Doce com a sua sogra, amassado pelo Natal e pelo Espírito Santo para que fosse oferecido aos mais próximos. Basilissa Fernandes, da Camacha, lembra-se com saudade dos ensinamentos culinários da sua mãe, onde se incluía a preparação do Pudim de Veludo. A Sopa de Castanha, cozinhada por Silvina Gonçalves, da freguesia do Curral das Freiras, concelho de Câmara de Lobos encerra a série. Além das tradições e costumes antigos revividos, Silvina traz de novo à memória, a importância da castanha na sua alimentação, tendo sido muitas vezes a única forma de sustento.
Se no passado as receitas eram transmitidas oralmente de geração em geração, garantindo a sua continuidade, no presente, essa prática caiu em desuso e por esse motivo urge registar para memória futura, num suporte apelativo, como é o caso do vídeo. As gerações mais novas de agora e as do porvir agradecerão o trabalho levado a cabo pela Associação Atremar a Ilha, pois está a contribuir para o perpetuar de parte da nossa identidade cultural e do saber-fazer das nossas gentes à volta da mesa, com os produtos da terra e do mar regionais.
A terminar, estimado leitor, desejo-lhe a continuação de um Feliz Natal e um 2023 com uma mesa recheada com os bons produtos da terra locais!
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