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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 24 de Abril de 2022.
Nos últimos meses assistiu-se a um grande aumento dos preços dos fertilizantes químicos essenciais à obtenção de produções agrícolas abundantes. A explicação para aquele facto está relacionada grosso modo com o aumento do preço do gás que é utilizado nas fábricas de fertilizantes e da invasão da Rússia na Ucrânia com as consequentes sanções económicas impostas pela União Europeia à Rússia, que é o principal exportador mundial de fertilizantes nitrogenados, isto é, à base de azoto e o segundo maior fornecedor de fertilizantes potássicos e fosforosos. Importa esclarecer que o azoto, o fósforo e o potássio são os três nutrientes indispensáveis para o bom desenvolvimento dos cultivos agrícolas e a garantia de quantidade e qualidade das produções. Por outro lado, os custos económicos e a extracção de matérias-primas necessárias ao fabrico dos fertilizantes químicos, provocam graves desequilíbrios ambientais que se sentem à escala global. A compostagem surge então como uma alternativa ao uso dos fertilizantes químicos. De acordo com o livro "Compostagem – Utilização de compostos em Horticultura" do Professor Doutor João Guilherme Batista e da Doutora Edite Romana Batista do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, a compostagem é «um processo biológico que assegura a transformação de materiais orgânicos num produto higienizado e rico em compostos húmicos, suficientemente estável para poder ser armazenado, e cujo emprego aos solos não produza efeitos adversos para o meio ambiente». Trata-se, portanto, de um método natural onde ocorre a degradação de folhas, aparas de sebes e árvores, relva, flores, restos de verduras e frutas, cascas de ovos trituradas, borra de café, sacos de chá, sobras de pão entre outros resíduos orgânicos, que é efectuada por fungos e bactérias, minhocas e insectos, na presença de oxigénio e num ambiente quente e húmido, modificando a matéria orgânica até à sua estabilização. Esta é realizada num recipiente (compostor) ou num monte e decorre normalmente ao longo de dois a três meses. O composto, de fácil utilização, traz inúmeras vantagens para o sucesso da exploração agrícola, seja no modo de produção biológico ou no convencional. Este derivado da compostagem acrescenta ao solo matéria orgânica e nutrientes, melhora a sua fertilidade, prolonga a sua vida, retém a água em solos arenosos e "areja" os terrenos argilosos, evita a sua erosão, incorpora bactérias e fungos que facilitam a transferência de nutrientes que estão no solo para as plantas, confere resistência às culturas no que diz respeito ao aparecimento de pragas e doenças e impede a expansão de ervas daninhas.
(Direitos Reservados)
A compostagem doméstica que já é uma realidade na Região há algum tempo, não é suficiente para satisfazer a demanda por parte dos agricultores detentores de superfícies agrícolas de maiores dimensões. É em 2019 que a Águas e Resíduos da Madeira (ARM) retoma a operação da Instalação de Compostagem na Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos (ETRS) da Meia Serra (telefone 291004300), situada na freguesia da Camacha, concelho de Santa Cruz, indo ao encontro dos anseios dos produtores madeirenses e colocando ao seu dispor, o composto Biovalor. O Biovalor é um composto 100% natural proveniente do tratamento biológico de resíduos verdes de jardins e parques por via da recolha selectiva, de valor acrescentado para a actividade agrícola, retornando ao meio ambiente e dando um contributo à economia circular dos materiais. Desde 2019 que foram entregues aos agricultores 1.820 toneladas deste composto distribuídas da seguinte maneira: 120 toneladas em 2019 por 50 produtores, 570 toneladas em 2020 por 225 e 1.130 toneladas em 2021 por 411. Esta procura crescente que se prevê que continue a aumentar no corrente ano, comprova a qualidade do Biovalor obtido pela ARM, pois pode ser usado em qualquer cultura agrícola, com ganhos evidentes no provimento de azoto, fósforo, potássio e de um elevado número de oligoelementos essenciais, reduzindo a aplicação de fertilizantes químicos, o seu potencial poluidor e respectivos custos. No presente e por forna a facilitar o seu acesso ao maior número de interessados, este composto é colocado a título gratuito nos seguintes locais: ETRS da Meia Serra, Estação de Tratamento da Zona Leste, localizada no Porto Novo, concelho de Santa Cruz e Centro de Processamento de Resíduos Sólidos, no Porto Santo, pertencentes à ARM e aos Centros de Abastecimento Agrícolas dos Prazeres, concelho da Calheta, de Santana e da Santa, concelho do Porto Moniz, infra-estruturas de apoio ao comércio agro-alimentar também conhecidas como Mercados Abastecedores, pertencentes à Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural através da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural. O Biovalor deve ser aplicado e incorporado na camada arável do solo tão breve quanto possível e tendo em conta as culturas ali instaladas, podendo também ser empregue nas covas de plantação, num limite máximo anual na ordem das 25 toneladas por hectare. Todavia, o ideal é realizar análises de terra para o apuramento do pH do solo, teor de matéria orgânica, nutrientes minerais e metais pesados, tipo de cultura e seu desenvolvimento vegetativo, época do ano e objectivo pretendido, para que se apliquem as quantidades exactas de composto.
Sob o ponto de vista ambiental, acresce ainda relevar que esta compostagem levada a cabo pela Águas e Resíduos da Madeira incrementa as taxas de separação e recolha selectiva de resíduos para reutilização e reciclagem, contribuindo desse modo para o cumprimento das metas nacionais e europeias no que se refere à gestão de resíduos.
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