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Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 27 de Fevereiro de 2022.

Mensalmente, esta página traz aspectos da agricultura madeirense, particularmente as culturas mais representativas e as pessoas que se dedicam àquela nobre actividade, quer como produtores, quer como técnicos ou investigadores. Todavia, o texto deste mês sai dessa baliza e incide sobre um livro intitulado "Artur Pastor" editado em Outubro de 2021 pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em colaboração com o Arquivo Municipal de Lisboa da Câmara Municipal de Lisboa. Desde 2002 que o Município lisboeta possui o Fundo Artur Pastor constituído por negativos, diapositivos, provas, maquetes de projectos de livros, provas de trabalho e documentação diversa, depois de os seus herdeiros terem proposto a sua venda, na perspectiva de salvaguardar aquele valioso espólio reunido ao longo de quase 60 anos. A publicação com 205 páginas resulta de um catálogo em formato digital da exposição fotográfica "Artur Pastor" que teve lugar entre Junho e Agosto de 2014, em vários lugares da Capital. Revista e com uma nova imagem gráfica, está dividida em sete capítulos: "Apresentação" por António Araújo e Isabel Corda, "Pastor, fotógrafo de sonhos" por Luís Pavão, "Artur Pastor" por Artur  Pastor (filho), "A vida do ‘Franco Atirador’: Artur Pastor, seis décadas de fotografia. Contributo para uma biografia" por Ana Saraiva, "A fotografia nos anos 40, 50 e 60. Espaço para Humanismo, Neorrealismo, Reportagem Subjectiva, Paisagem Social e Salonismo, no tempo fotográfico de Artur Pastor" por Marcos Fernandes, "O país de Artur Pastor" por Cristiana Bastos e as "As fotografias de Artur Pastor no seu tempo" por Maria Carlos Radich. Dada a extensão do livro em apreço e para a elaboração deste artigo, concentramo-nos nos capítulos "Pastor, fotógrafo de sonhos" por Luís Pavão e "A vida do ‘Franco Atirador’: Artur Pastor, seis décadas de fotografia. Contributo para uma biografia" por Ana Saraiva. Atendendo à vasta obra de Pastor produzida ao longo de seis decénios, demos particular atenção ao seu trabalho enquanto Regente Agrícola da Direcção Geral de Serviços Agrícolas (DGSA), já que cedo se interessou igualmente pelo litoral e pelas gentes que labutavam na faina do mar, pelas paisagens urbanas, entre outros. Artur Arsénio Bento Pastor, natural de Portalegre, Alentejo, nasceu a 1 de Maio de 1922 e a seguir à conclusão da instrução primária, entrou para a Escola de Regentes Agrícolas de Évora. A 10 de Fevereiro de 1942 obteve o diploma do 7.º ano do curso de Regentes Agrícolas, tendo a 16 de Junho daquele ano prestado juramento no Distrito de Recrutamento e Mobilização 16, em Évora. Após o serviço militar, Artur Pastor realizou tirocínio na Brigada Técnica da XII Região Agrária em Évora com o propósito de se diplomar Regente Agrícola. Desse modo, em 1949, candidatou-se a Regente Agrícola de 3.ª classe, porém, com o curso por terminar, foi admitido como Regente Agrícola tirocinante no Serviço de Fomento e Inspecção Técnica da Batata-Semente, apresentando-se a 18 de Setembro de 1950 no Posto Experimental de Montalegre, onde ficou até Fevereiro de 1953, concluindo, entretanto, o curso em 8 de Outubro de 1951. Em 1953, foi transferido para a Direcção de Serviços Fitopatológicos, em Lisboa. Em 1955 foi promovido a Regente Agrícola de 3.ª classe e passou a exercer funções na Repartição de Estudos, Informação e Propaganda da DGSA, também na Capital. Em 1959, foi promovido a Regente Agrícola de 2.ª classe e em 1978 foi nomeado Engenheiro Técnico Agrário de 1.ª classe, tendo passado a Engenheiro Técnico Agrário Principal, em 1980, aposentando-se em Agosto de 1983.

No seu percurso profissional, Artur Pastor esteve sempre ligado à fotografia, com excepção dos primeiros anos no Posto Experimental de Montalegre, no início da década de 50 do século passado. Na qualidade de "Regente Agrícola Fotógrafo" na Direcção Geral de Serviços Agrícolas sugeriu a criação de um arquivo fotográfico naqueles serviços, tendo o mesmo sido autorizado e denominado de Arquivo Fotográfico da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas do Ministério da Economia. Actualmente, os negativos e provas desse Arquivo na ordem dos mais de 10.000, encontram-se no Centro de Documentação do Ministério da Agricultura, ordenados através de um modelo de ficha descritivo idealizado e preenchido manualmente por Artur Pastor com vista à classificação das fotografias. Artur Pastor visitou diversas regiões do país, fotografando os campos e os postos agrários da DGSA, bem como os amanhos culturais desde lavras, sementeiras, o transporte e a debulha do trigo, o varejo e a apanha da azeitona, o arranque e a escolha de batata para ensacagem, o descortiçamento dos sobreiros, a aplicação de fertilizantes, as vindimas, as regas, entre outras. Do mesmo modo, registou para memória futura o trabalho realizado no Serviço de Ensaio de Sementes, da Estação Agronómica Nacional, em Lisboa. Em 14 de Outubro de 1968 foi agraciado pelo Presidente da República, Américo Thomaz, com o grau de Oficial da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial na Classe do Mérito Agrícola. Fez a cobertura fotográfica de visitas oficiais e de reuniões de trabalho, organizou concursos de fotografia e foi júri, colaborou e foi autor de edições da DGSA, como por exemplo, com fotografias suas publicadas nos quatro fascículos da segunda edição da revista Agricultura, em 1973, e o caderno "A Fotografia e a Agricultura" editada pela Direcção Geral de Extensão Rural do Ministério da Agricultura e Pescas, em 1979. A título de curiosidade, organiza e ministra em 1980, o "Curso de Iniciação à Fotografia Agrícola", no Centro de Formação e Extensão Rural, nas Caldas da Rainha, levada a cabo pela Direcção de Serviços de Documentação e Divulgação Agrária. Faleceu em 17 de Setembro de 1999.

No seu ofício, Artur Pastor teve uma vida dedicada ao gosto pela fotografia e a agricultura, o querer capturar aquele momento para a posteridade. Para que os vindouros soubessem o que foi o Portugal rural e agrícola (e não só) dos anos 50 e 60 do século XX, por comparação com o Portugal de hoje, o que mudou e o que se perdeu irremediavelmente pelo decurso do tempo.

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