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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 31 de Outubro de 2021.
Antes de mais, importa esclarecer sempre que não se deve confundir as palavras sidra (bebida) e cidra (citrino), cuja casca cristalizada é usada na confecção do bolo de mel de cana sacarina. A Sidra da Madeira provém da fermentação do sumo de maçã/pêro que foi prensado a partir de frutos frescos de variedades regionais ou «tidas como tais» produzidas na Ilha da Madeira. Com um teor de álcool de 5 a 8 graus semelhante ao de uma cerveja, é uma bebida fresca e agradável ao paladar. Na obra "Saudades da Terra – Livro Segundo", o Pe. Gaspar Frutuoso descreve a existência de pomares de macieira/pereiro e pereira na primeira metade do século XVI, o que por consequência, deu lugar à produção de sidra. O Professor Joaquim Vieira Natividade na publicação "Fomento da Fruticultura na Madeira" de 1947, reeditada em 2018 pelo Serviço de Publicações da Direcção Regional da Cultura, dava conta da diversidade e da riqueza genética de macieiras que rondavam a centena de variedades locais dispersas pela Ilha da Madeira. Mais recentemente, fruto do trabalho encetado pelos Técnicos da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural ao longo do tempo, estão registadas dez variedades de macieira no Catálogo Nacional de Variedades, das quais também se produz sidra. Na Região, a sidra é uma bebida com história, consumida sobretudo no campo, em localidades como São Roque do Faial (Santana), Santo da Serra (concelho de Machico), Camacha (Santa Cruz), Jardim da Serra (Câmara de Lobos), Prazeres e Ponta do Pargo (Calheta). A partir de 2006, começa-se a produzir sidra em moldes industriais na Quinta Pedagógica dos Prazeres e seguindo os procedimentos modernos da sua obtenção, nomeadamente no que se refere à higiene e segurança alimentar, labor esse iniciado com produções daquela freguesia, da Fajã da Ovelha e da Ponta do Pargo, com assinalável êxito. Em Janeiro de 2020, com a inauguração da sidraria comunitária de Santo António da Serra, situada no Centro Cívico, na Ribeira de Machico, dá-se um novo impulso a esta bebida e à produção de maçã/pêro regionais.
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No dia 23 de Setembro, teve lugar no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, o 6.º Concurso Nacional de Sidras Tradicionais Portuguesas organizado pelo CNEMA e pela Qualifica/oriGIn Portugal. A Madeira foi reconhecida ao mais alto nível naquele concurso com 13 distinções. A sidra "Netos e Gautier" do Jardim da Serra foi considerada a melhor das melhores e ganhou uma medalha de ouro, tendo a "HBS", a "Herdeiros de Agostinho Rodrigues" e a "Casa do Povo de Santo António da Serra", ambas do Santo da Serra (Machico), alcançado a medalha de ouro. As sidras "A Poncha da Fátima" do Santo da Serra (Machico), "Sidra Massa" do Santo da Serra (Santa Cruz), "Princesa do Santo" do Santo da Serra (Ribeira de Machico), "Fazenda Corte" da Ponta do Sol, "José Luís Correia Gouveia" do Santo da Serra (Ribeira de Machico), "Fábrica da Igreja Paroquial dos Prazeres" (Calheta), conquistaram a medalha de prata, enquanto que "Geraldo Dória" de São Roque do Faial, "Gouveia e Sabido" e "Barraca da Avó", do Santo da Serra (Ribeira de Machico), conseguiram a medalha de bronze. A inegável qualidade das variedades regionais de macieira das diferentes zonas produtoras, o saber-fazer do produtor e o processamento efectuado nas melhores condições de higiene e segurança alimentar nas sidrarias, conferiram níveis de excelência que foram confirmados neste concurso de âmbito nacional. Uma palavra de apreço à Colega Regina Pereira Santos que desde 2006 tem realizado um trabalho digno de reconhecimento na área sidrícola, sendo a actual responsável técnica pelas sidrarias dos Prazeres e de Santo António da Serra. No presente, são já 12 os produtores de sidra madeirenses, que agora têm a oportunidade de comercializar junto dos locais e dos turistas, em especial, os ingleses, alemães, franceses e espanhóis, que são conhecedores e apreciadores desta bebida. O turismo tem um papel crucial no sentido de alavancar o consumo da Sidra da Madeira, que está em vias de ser qualificada como IGP (Indicação Geográfica Protegida), uma insígnia europeia requerida pela Associação de Produtores de Sidra da Região Autónoma da Madeira, que só é concedida aos melhores dos melhores! É preciso ter estas sidras na hotelaria e restauração, pois enriquecem a oferta gastronómica e acrescentam mais valor, quer ao sector turístico, quer aos produtores de maçã/pêro, que assim sentir-se-ão motivados a recuperar pomares e a plantar mais macieiras, evitando o abandono dos terrenos agricultados e fixando a população no meio rural.
Com a já anunciada abertura da sidraria comunitária de São Roque do Faial em 2022 e da sidraria dos Prazeres para breve, fazemos votos que num futuro próximo se estabeleça um Roteiro da Sidra da Madeira, que permita ao residente e ao forasteiro, conhecer não só aquele produto, mas a tudo ao que este diz respeito, no pomar, na sidraria, na culinária, nos usos e costumes, nos eventos que se realizam anualmente um pouco por toda a Ilha. Ele há muito por descobrir!
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