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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no Diário de Notícias, no dia 26 de Setembro de 2021.
O Programa Editorial das Comemorações dos 600 anos do Descobrimento do Porto Santo e da Madeira permitiu recuperar publicações que há muito deixaram de ser vistas nas livrarias. Nesse âmbito, a obra "Camponeses da Madeira – As Bases Materiais do Quotidiano no Arquipélago (1750-1900)" de Jorge Freitas Branco, que tinha sido editada em 1987 pela Publicações Dom Quixote, vê novamente a luz do dia numa segunda edição de 2019 "corrigida e ampliada", desta vez levada a cabo pelo Serviço de Publicações da Direcção Regional da Cultura (DRC) através da Secretaria Regional do Turismo e Cultura e que contou com o empenho do então Responsável por aquele serviço, Dr. Marcelino de Castro, como é mencionado na "Nota prévia". Na tarde da passada segunda-feira, no Museu Quinta das Cruzes, aconteceu uma Tertúlia de apresentação deste livro, moderada pela Dr.ª Cláudia Faria, Chefe de Divisão de Publicações, o autor, Professor Doutor Jorge Freitas Branco, a Dr.ª Graça Alves, Directora de Serviços de Museus e Centros Culturais, o Dr. Paulo Ladeira da DRC e o signatário deste artigo, na presença do Secretário Regional do Turismo e Cultura, Dr. Eduardo Jesus e da Directora Regional da Cultura, Dr.ª Teresa Brazão. À pergunta lançada pela moderadora de «quem é este camponês, quem é este vilão», os participantes da tertúlia tiveram a oportunidade de dar perspectivas diversas do camponês de outrora e de agora. Nas linhas que se seguem, descrevo um pormenor assaz curioso contado pelo Professor Jorge Freitas Branco a propósito da fotografia da sua autoria que ilustra a capa desta edição e da primeira edição. Estava um dia de nevoeiro cerrado no sítio da Maloeira, freguesia da Fajã da Ovelha, concelho da Calheta, mas de repente, o nevoeiro levantou um pouco e na estrada, surge um homem com uma vaca e uma carreta e a mulher a transportar um molho de erva. O autor da fotografia e da obra não hesitou, parou o carro no pouco movimentado caminho e tirou aquele instantâneo que resume aquilo que se pode ler nas 324 páginas desta reedição.
(Direitos Reservados)
No "Prefácio (da 1.ª edição)", o Antropólogo Jorge Freitas Branco afirma que «o papel histórico desempenhado pelo campesinato insular é a especificidade deste trabalho, daí o acento posto no tratamento dos aspectos materiais que sustentam o seu quotidiano». O livro está dividido em 4 partes: "O Eixo da Organização do Quotidiano", "Instrumentos e Processos de Trabalho", "Aspectos das Relações Sociais na Produção Agrícola" e "Factores de Transformação duma Ruralidade". Nesta segunda edição consta pela primeira vez, uma adenda denominada "Apêndice: A Madeira como Experiência Antropológica". Este suplemento foi anteriormente publicado com o título "Entre a imagem e a realidade: reflexões sobre a Madeira como experiência antropológica", nas Actas do I Congresso Internacional da História da Madeira realizado em 1986, tendo o autor alterado o subtítulo e suprimido a transcrição do debate, dando o testemunho da metodologia usada para a elaboração deste trabalho. Jorge Freitas Branco dá conta da sua experiência de campo, mais concretamente entre Março de 1979 e Julho de 1980, onde registou apontamentos diários, normalmente ao fim do dia, considerados importantes para a sua reflexão pessoal e numa forma de compreender a realidade. Escolhe sobretudo a zona oeste da Madeira, também conhecida localmente como "Costa de Baixo", mais propriamente o concelho da Calheta, por estar supostamente distante da área de influência directa da cidade do Funchal e por ter um conjunto de produções agrícolas representativas da Ilha, como por exemplo a banana e a cana-de-açúcar, anotando aspectos dos amanhos agrícolas e outros como a construção de habitação própria ao fim-de-semana comum naquela época. A colaboração das "forças vivas" como os párocos, presidentes de juntas de freguesia e do município revelaram-se decisivas para a aceitação do investigador junto das populações rurais. As vendas, como as mercearias são designadas na Região, foram do mesmo modo essenciais para o contacto com os residentes e a compreensão do seu dia-a-dia. Reconhece diferenças entre os cultivos agrícolas no litoral e a serra, assim como o desenvolvimento socioeconómico dessas zonas, mais ricas e pobres, respectivamente. Os problemas de há 40 anos continuam actuais: o preço elevado e os aumentos frequentes dos fertilizantes, a falta de mão-de-obra para trabalhar ao dia e a emigração afectavam a actividade agrícola. Naquela altura, a pecuária e a criação de gado bovino para produção de leite era expressiva e um complemento significativo de rendimento para as famílias, mesmo que tivessem em média um animal por proprietário, utilizando-se o estrume dos animais para a fertilização dos terrenos. A propriedade e a posse da terra, o morgadio, o contrato de colonia, em geral, verbal, e o colono, são explicados de uma forma clara, com algumas referências cronológicas do período em estudo. Ao longo da obra, o Porto Santo é motivo de inúmeras informações sobre as culturas agrícolas com destaque para os cereais, a criação de gado, a escassez crónica de água, o avanço da areia sobre os terrenos cobrindo os cultivos e a obrigação régia de instalar-se vinhas para conter as areias trazidas pelos ventos na segunda metade do século XVIII, entre outras. O livro encontra-se à venda na loja de livros da DRC, à Rua dos Ferreiros, n.º 165, no Funchal, ou através do endereço electrónico https://loja.madeira.gov.pt/product/camponeses-da-madeira-as-bases-materiais-do-quotidiano-no-arquipelago-1750-1900/
Muito mais há para (re)descobrir nesta segunda edição, percebendo-se que a vida neste Arquipélago, para a maioria dos agricultores, nunca foi fácil, apesar da generosidade da Natureza, mas consoante os anos, também sentiam na pele a sua adversidade. Assim foi e assim ainda é!
A 9 de Setembro de 2007 nascia o "Agricultando", rubrica de opinião sobre Agricultura madeirense na então revista do Diário de Notícias da Madeira.
O "Pêro da Ponta do Pargo em festa" foi o primeiro artigo de um conjunto de 198 textos publicados até à presente data. São 71 textos da 1.ª série - 9.9.2007 a 13.6.2010, 72 textos da 2.ª série - 30.1.2011 a 29.1.2017 mais 55 textos da 3.ª série iniciada a 26.2.2017, e que se encontra em curso. A estes cento e noventa e oito escritos há que juntar mais dois artigos-resumo das 1.ª e 2.ª séries que foram publicados no Diário de Notícias da Madeira a 13.6.2010 e 29.1.2017, respectivamente. Chego assim às duas centenas de textos, número que nunca pensei atingir!
Dada a efemeridade dos jornais, compilaram-se os 71 textos da 1.ª série em livro a 21 de Março de 2011 com a respectiva versão inglesa, a 16 de Dezembro de 2013.
Passados 14 anos jamais pensaria estar ainda a escrever. O facto de sentir que o Agricultando é lido e acarinhado por muitos leitores do Diário de Notícias da Madeira, aqui no blogue e na página de facebook, dá-me alento para continuar, fazendo aquilo de que mais gosto: escrever sobre o que de bom a Madeira e o Porto Santo tiveram ou têm, na agricultura e na gastronomia.
Muito grato e reconhecido a quem me lê!
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