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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 28 de Abril de 2019, no Diário de Notícias.
Num território pequeno como é o Arquipélago da Madeira, é possível estabelecer-se uma relação directa entre sectores aparentemente opostos como a Agricultura e o Turismo. Todos os que nos visitam, seja pela primeira vez ou como repetentes, enaltecem a paisagem agrícola e igualmente a natural. O relevo, a proximidade de locais que exibem plantas e cultivos de climas tropical, subtropical e temperado à medida que se sobe encosta acima provocam no visitante sentimentos de tranquilidade e surpresa. Essas sensações agradáveis prolongam-se nos momentos que se passam à mesa, quando se desfruta de uma refeição com produtos da terra locais. E há exemplos disso. A nossa semilha [regionalismo para batata], a batata-doce e as suas variedades, o inhame (tão cobiçado nesta época do ano), o feijão maduro, a maçaroca, a cebola, o tomate, a couve, os espigos, passando por derivados como o mel de cana-de-açúcar que tradicionalmente é usado na doçaria, mas que no presente tem aplicação em vários acompanhamentos de pratos principais. E que dizer dos frutos como a banana (por vezes inexplicavelmente esquecida), a anona, o abacate, a pitanga, que além do consumo ao natural podem e devem ser transformados para deleite de quem os vai conhecer, alguns até pela primeira vez. É pois, desejável que se intensifique esta ligação da Agricultura ao Turismo na área da hotelaria e restauração, com evidentes ganhos mútuos.
No passado dia 10, o Arquitecto Rui Campos Matos num oportuno artigo de opinião publicado no Diário de Notícias da Madeira lançou a ideia de uma paisagem comestível, isto é, uma paisagem que simultaneamente encanta o sentido da visão e fornece produtos da terra e do mar à cozinha regional. É urgente aprofundar este conceito, pois dele depende a manutenção da paisagem que admiramos e contemplamos incessantemente, e que nos provoca por vezes tristeza, quando nos apercebemos que aquele pedacinho de terra outrora cultivado, está abandonado e cheio de mato. Por outras palavras, e já aqui escrevi neste espaço noutras ocasiões, dada a pequenez da Madeira e do Porto Santo, a paisagem agrícola insular só existe se cada um de nós, residentes e forasteiros, adquirirmos e consumirmos os hortofrutícolas que se produzem nos poios [regionalismo para socalcos]. Quando compramos as verduras e as frutas que vêm de fora em detrimento das de cá, estamos a depauperar a nossa paisagem, disso não tenhamos dúvidas. Um poio desprezado pelo motivo atrás descrito dificilmente voltará a ser agricultado, até porque a pessoa que lá trabalhava, por não ter encontrado o tão desejado escoamento das suas produções e consequente sustento, resolveu procurar outra ocupação ou até emigrar…
Reflictamos sobre este aspecto e tenhamos uma atitude positiva de nos ajudarmos, sim, de nos ajudarmos, porque ao comprarmos o que é nosso, estamos a auxiliar o agricultor a ter o seu ganha-pão e este ajudar-nos-á com produtos frescos e de grande qualidade essenciais para a nossa saúde e bem-estar, dando-nos ainda a tão apreciada paisagem agrícola madeirense!
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