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Madeira, a Ilha da aguardente velha de cana

por Agricultando, em 31.03.19

Este texto foi publicado no dia 31 de Março de 2019, no Diário de Notícias.

Há mais de 100 anos, a Madeira foi conhecida como a "Ilha da aguardente", pois chegou-se a consumir 2 milhões de litros de aguardente de cana, tendo sido por isso publicado um decreto em 1911 que expropriava fábricas de produção desta bebida e impunha um limite à sua produção, conforme informação transmitida pelo Professor Doutor Alberto Vieira no Dicionário Enciclopédico "Aprender Madeira", disponível na internet. O "Rum da Madeira" ou aguardente de cana-de-açúcar que é Indicação Geográfica Protegida desde 20 de Fevereiro de 2008, deriva da fermentação alcoólica e destilação do sumo de cana-de-açúcar oriunda da Região, sendo produzida maioritariamente por três Engenhos: Calheta, Novo e do Norte. Todavia, neste "Agricultando" merece especial atenção, o produtor de aguardente de cana, Abel Fernandes, com 83 anos, da freguesia do Porto da Cruz, concelho de Machico, que se tem dedicado afincadamente à produção de aguardente velha e que me foi apresentado pelo Colega e Amigo Ricardo Costa. Com quase 40 anos de conhecimento e experiência na produção de rum, cedo começou nos anos 60 do século passado como agente do Engenho do Hinton, encarregando-se do envio de cana sacarina das freguesias do Porto da Cruz, Faial e São Roque do Faial para aquela importante unidade de transformação. Depois do fecho do Engenho do Hinton em 1986, inicia uma colaboração com o Engenho de Machico que entretanto também cessou a sua actividade, passando para os Engenhos do Norte (Porto da Cruz), onde permaneceu durante cinco anos. Então, resolveu estabelecer-se por conta própria, tendo adquirido equipamentos com mais de um século à família Welsh, proprietária do Engenho do Hinton. Ao longo do tempo este produtor apercebeu-se do valor acrescentado do "Rum da Madeira" envelhecido, isto é, a aguardente de cana sacarina que permanece em cascos de madeira de carvalho, por um período mínimo de três anos.

Abel Fernandes tem algumas dezenas de pipas de mais de 600 litros de capacidade no seu armazém, que foram compradas à Madeira Wine e a outra companhia de Vinho Madeira. Contêm aguardente de cana-de-açúcar que está armazenada há 15, 18, 21, e 24 anos, sendo de 25 anos a idade máxima de envelhecimento permitida pelo Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira. Como é perceptível, quanto mais velha é uma aguardente de cana, mais complexa é a sua cor, o seu aroma e o seu sabor, completamente distintos de um rum ou aguardente branca (como é igualmente designada) com um ano. Como é sabido, esta última é usada para a confecção da poncha, bebida madeirense que é uma mistura feita no momento de servir com aguardente de cana, mel ou açúcar, sumos de limão e/ou laranja no seu modo tradicional, e mais recentemente com sumos de maracujá, tangerina, tomate-inglês, entre outros. Por falta de espaço no armazém e por estar a aguardar o melhor momento para comercializar os lotes de aguardente velha, este produtor deixou de elaborar aguardente há dois anos. O "Rum da Madeira" envelhecido ao ser comparado com outros congéneres existentes noutras partes do globo, por prémios já conquistados em concursos mundiais e por comentários e apontamentos de conhecedores e especialistas regionais, nacionais e internacionais desta bebida, damo-nos conta que a Madeira poderá ser novamente reconhecida como a "Ilha da aguardente", não pela quantidade como o foi no princípio do século XX, mas pela qualidade de excelência das melhores aguardentes de cana sacarina envelhecidas do mundo!

E que potencial agrícola e cultural existe na Região para atrair turistas que correm mundo com o propósito de apreciar uma boa aguardente velha de cana, e que querem saber onde tudo começa (nos canaviais) e recomeça (nos engenhos).

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publicado às 15:47


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