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Um Porto Santo que importa preservar

por Agricultando, em 30.12.18

Este texto foi publicado no dia 30 de Dezembro de 2018, no Diário de Notícias.

De 28 a 30 de Novembro teve lugar no auditório da Câmara Municipal do Porto Santo (CMPS), o Seminário "Porto Santo - Reserva da Biosfera da UNESCO: Oportunidades e Desafios", organizado pela CMPS, Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais, Direcção Regional para a Administração Pública do Porto Santo, Associação Grupo de Folclore do Porto Santo, Agência Regional de Energia e Ambiente da Região Autónoma da Madeira (AREAM) e Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM, contando com o apoio da Associação de Promoção da RAM e do Hotel Vila Baleira. Participei neste evento, como assistente e orador (numa das mesas-redondas), agradecendo novamente o amável convite endereçado pela Doutora Susana Fontinha em nome da organização. No dia 28 de Novembro, realizaram-se duas mesas-redondas, "Reservas da Biosfera da UNESCO" e "Reserva da Biosfera – que Atrativos do destino Porto Santo?" precedidas de duas palestras, "O Programa MaB e as Reservas da Biosfera da UNESCO" e "O Porto Santo enquanto destino de excelência" apresentadas pela Dra. Anabela Trindade, Presidente do Comité Nacional MaB (‘Man and Biosphere’) e pela Doutora Susana Fontinha, Coordenadora da candidatura do Porto Santo a Reserva da Biosfera, respectivamente. No dia seguinte, efectuaram-se debates direccionados para a importância da educação e do programa Eco-Escolas, tendo o encerramento ocorrido a 30 de novembro com um passeio pelo Porto Santo, em que se visitaram locais de interesse histórico, cultural, agrícola e natural, e do qual escreverei mais adiante. Mas, o que é uma Reserva da Biosfera? É um galardão atribuído pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), e define-se como um "laboratório vivo", onde se desenvolvem como funções principais, a conservação de paisagens, ecossistemas e espécies, o desenvolvimento sustentável a nível social, económico, cultural e ecológico. Actuam ainda como plataformas de investigação, monitorização, educação e sensibilização, tendo sempre em vista a partilha de informação e de experiência adquirida. Em Portugal, existem 11 Reservas da Biosfera, sendo a mais antiga, a de Boquilobo instituída em 1981, e a mais recente, a de Castro Verde, no ano passado. No caso da Madeira, desde 2011 que o Concelho de Santana é Reserva da Biosfera.

Na mesa-redonda "Reservas da Biosfera da UNESCO", participaram António Domingos Abreu, Especialista de Programa da UNESCO (Divisão de Ciências Ecológicas e da Terra), António San Blas, Director da Reserva da Biosfera de La Palma, Canárias, Fernando Ferreira, Director da Reserva da Biosfera do Corvo, Açores e Rui Moisés, Promotor da Candidatura de Santana a Reserva da Biosfera, moderada por Anabela Trindade, Presidente do Comité Nacional MaB. Da troca de ideias, reteve-se a relevância que o estatuto de Reserva da Biosfera representa para a comunidade local e para os turistas, quer no aspecto cultural, quer no aspecto socioeconómico. António San Blas da Ilha de La Palma e Rui Moisés sublinharam que os produtos agrícolas e agro-alimentares oriundos das reservas são mais valorizados, justamente por ostentarem o símbolo da UNESCO, que é reconhecido mundialmente. Na parte da tarde, depois de uma completa e brilhante apresentação da Doutora Susana Fontinha sobre "O Porto Santo enquanto destino de excelência", onde foram abordadas as componentes históricas, culturais, naturais e agrícolas da Ilha Dourada, intervieram na mesa-redonda "Reserva da Biosfera – que Atrativos do destino Porto Santo?", Roland Bachmeier, Empresário Hoteleiro e representante da Mesa do Turismo/ACIF – Câmara de Comércio e Indústria da Madeira, Filipe Oliveira da AREAM, o signatário deste artigo, representando a Direcção Regional de Agricultura e Natércia Xavier da Secretaria Regional do Turismo e Cultura, com a moderação do painel a ser realizada por Susana Fontinha. Das comunicações apresentadas, sublinhou-se a primazia de utilizar as energias renováveis e reduzir os consumos de água na hotelaria, de dar preferência aos produtos agrícolas regionais para a confecção das refeições, de utilizar as energias renováveis no aquecimento das águas e na produção de electricidade, da substituição dos automóveis que utilizam combustíveis fósseis pelos eléctricos, diminuindo a ‘pegada ecológica’, de preservar e divulgar as tradições porto-santenses expressas no folclore. Da minha parte, procurei destacar a qualidade dos hortofrutícolas produzidos na Ilha do Porto Santo. É do conhecimento geral que os produtos agrícolas daquela Ilha como por exemplo o tomate, a cebola, a cenoura, a batata doce, a alface, a melancia, o figo, o tabaibo, o maracujá, a pitanga, a romã, têm um sabor diferente dos demais. Além disso, são mais ricos em cálcio e estrôncio, dois elementos essenciais para o fortalecimento dos ossos e dos dentes. É por isso que se fala de uma agricultura medicinal, conceito que alia o consumo de hortofrutícolas locais para o bem-estar da população residente e visitante. O ilustre Agrónomo Joaquim Vieira Natividade foi recordado, pois na obra "Fomento da Fruticultura na Madeira" de 1947, recentemente reeditada, dedica um capítulo à Ilha do Porto Santo. Cito algumas frases daquele livro que caracterizam a agricultura na ilha vizinha: «Porto Santo é a ilha dos paradoxos. A sua agricultura, por mais estranho que isso pareça, tem por base, em boa parte, a erosão. A fertilidade das terras baixas mantém-se à custa da terra da montanha, arrastada pelas águas, e que renova incessantemente o solo agrícola. A ilha devora-se a si própria. A chuva traz, partícula a partícula, o monte para o vale, espalha-o pelas alagoas ou lança-o no mar […]». Por último, uma nota de apreço pela actividade "(Re)descobrir Porto Santo" desenvolvida na manhã e início de tarde do dia 30 de Novembro, no cais e centro da Vila Baleira, passando por terrenos agrícolas com muros de pedra solta (também conhecidos por muros de renda ou muros de croché), por um antigo forno da cal, por um povoamento florestal com a oliveira brava no Pico Castelo, por uma antiga casa de salão, terminando com uma deliciosa sopa de chícharo (leguminosa que já foi bastante cultivada no Porto Santo, tal como a lentilha) com carne de porco servida na Casa da Serra, no sítio da Serra de Fora. É este Porto Santo que importa preservar, mostrando que, apesar da escassez de água, é possível cultivar produtos que darão origem a iguarias que jamais serão esquecidas.

E como é "Festa" [regionalismo para Natal], caro leitor, resta-me desejar a continuação de Boas Festas e um 2019 pleno de produtos agrícolas regionais à sua mesa!

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