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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 26 de Novembro de 2017, no Diário de Notícias.
Nascido em Alcobaça a 22 de Novembro de 1899, Joaquim Vieira Natividade é considerado por muitos como o Agrónomo que mais contribuiu para a modernização da fruticultura e da subericultura portuguesas, sendo reconhecido a nível nacional e internacional. Filho do Arqueólogo Manuel Vieira Natividade e de Maria da Ajuda Garcez Natividade fez o ensino primário na sua terra natal e completou o curso do liceu em Coimbra. No ano lectivo de 1916/1917 matriculou-se no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, concluindo o curso de Engenheiro Agrónomo e a licenciatura em Silvicultura em 1922, tendo defendido o relatório final do curso de Engenheiro Silvicultor em 1929. Em 1933, torna-se Professor Catedrático aprovado naquela faculdade, embora não chegue a leccionar por ter sido escolhido outro candidato para a ocupação de uma vaga de docente. Contudo, a sua vida foi quase toda dedicada à investigação científica nas áreas da fruticultura, subericultura e silvicultura, desenvolvendo a sua actividade principalmente em Alcobaça, na Estação de Experimentação Florestal do Sobreiro de Maio de 1930 a Outubro de 1950, e chefiou o Departamento de Pomologia da Estação Agronómica Nacional naquela localidade de Outubro de 1937 até 19 de Novembro de 1968, data da sua morte. O Professor Engenheiro Joaquim Vieira Natividade publicou cerca de 320 trabalhos entre livros, artigos técnicos, lições, conferências, relatórios, muitos dos quais inéditos. O primeiro trabalho que editou em 1922 como edição de autor, foi o seu relatório final do curso de Engenheiro Agrónomo intitulado "A Região de Alcobaça. Agricultura, População e Vida Rural". A sua obra "Pomares – Poda de Fruteiras, Monda dos Frutos" lançada pela primeira vez em 1935, teve uma 2.ª edição em 1942 que foi revista, sendo certamente aquela que teve mais procura, pois com a 3.ª edição de 1951 atingiu os 10.000 exemplares. Escreveu um considerável número de artigos de opinião nos jornais "O Século", "Diário de Lisboa", "Diário Popular", "Notícias Agrícola", "Novidades", entre outros. Entre distinções outorgadas por entidades portuguesas e estrangeiras pelo seu labor realizado em prol da Agricultura e pela brilhante obra científica concretizada, destaca-se o de grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial (Classe de Mérito Agrícola) por decreto de 11 de Março de 1951 emanado da Presidência da República, e o grau de Doutor Honoris Causa conferido em 1966 pela Universidade de Toulouse.
Direitos Reservados
Das publicações que Vieira Natividade lançou, merecem especial atenção três sobre o Arquipélago da Madeira: "Fomento da Fruticultura na Madeira" (1947) editado pela Junta Nacional das Frutas e pelo Grémio dos Exportadores de Frutos e Produtos Hortícolas da Ilha da Madeira, "A Técnica ao Serviço do Agricultor Madeirense" (1952) numa palestra integrada no programa "A Rádio ao serviço da Agricultura" da Estação Rádio da Madeira e lida pelo próprio, tendo sido incluída numa separata de quatro páginas do Boletim de Informação e Publicidade da Junta dos Lacticínios da Madeira, e "Madeira – A Epopeia Rural" (1953) resultante de uma conferência proferida na Associação Industrial Portuense a convite do Centro Madeirense do Porto a 22 de Junho de 1953, e que foi publicada pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal. Em todas, há algo em comum: um profundo conhecimento da realidade agrícola regional, onde indica as potencialidades e as limitações, e aponta sobretudo os caminhos possíveis para melhorar aquilo que a natureza e o saber-fazer do Agricultor madeirense tinham obtido desde o povoamento até à década de 50 do século passado. Cito algumas frases da palestra "A Técnica ao Serviço do Agricultor Madeirense" de 1952, que reflectem bem o que foi escrito anteriormente: «Em toda a parte, agricultar consiste apenas em cultivar a terra. Aqui [referindo-se à Madeira], cria-se primeiro a terra e cultiva-se depois. Em toda a parte, a água corre para o mar; aqui, faz-se correr a água para a terra: a fonte, o regato, a ribeira, pulveriza-se em levadas. Em tudo está presente o esforço humano, duro, persistente, heróico, que fez de um pedaço de rocha perdido na imensidade do mar um jardim magnífico pela riqueza da flora e pelo mimo do granjeio. […] Mas o problema agrícola agrava-se sem cessar. A população cresce, a terra pulveriza-se cada vez mais e atinge extremos que nos confrangem e impossíveis que nos deixam atónitos. […] Só o aperfeiçoamento incessante da técnica pode tornar a tarefa do agricultor mais fácil, mais segura e mais eficiente. […] A criação, na Madeira, de uma Estação de Experimentação Agrícola corresponde, pois, a uma necessidade imperiosa». Como curiosidade, ainda em 1952, o Professor Engenheiro Joaquim Vieira Natividade elabora um estudo sobre a "Estação Agrária da Madeira. Sugestões para um Plano de Trabalho", que lhe foi incumbido pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, tendo o mesmo sido dactilografado, desconhecendo-se se este importante documento fará parte de algum arquivo.
Uma vez que se esboçou aqui uma súmula, muito mais haverá para dizer sobre este distinto Alcobacense, cuja memória perdura na Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade, em Alcobaça, e nas suas publicações, mas ficam anotados alguns dos principais elementos do seu extraordinário percurso de vida, sempre ao serviço da fruticultura, subericultura e silvicultura portuguesas.
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