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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 28 de Agosto de 2016, na revista "Mais" do Diário de Notícias.
Neste "Agricultando", é impossível não escrever sobre os trágicos incêndios que ocorreram essencialmente entre os dias 8 e 10 nos concelhos do Funchal, Calheta e Ponta do Sol. No início, a queimar áreas florestais e depois casas no centro do Funchal. É certo que as condições climatéricas foram propícias ao propagar do fogo, mas o desleixo de muitos anos seguidos aumentou o infortúnio de muitas famílias, já que terrenos contíguos às casas apresentavam muito mato, alimentando assim a força do lume. Numa primeira estimativa de áreas queimadas calcula-se que oito por cento da Madeira ardeu, sendo que no Funchal 22 por cento da sua superfície foi devastada pelas chamas. Naquilo que me é mais próximo em termos profissionais, a agricultura, também não foi poupada, com casos de perdas totais. Porém, é notório que muitos terrenos outrora agricultados, ao serem abandonados por motivos de envelhecimento dos proprietários, emigração, partilha de bens, entre outros, são autênticos barris de pólvora, pois neles instalam-se espécies como a acácia, a canavieira, o silvado e demais arbustos e ervas infestantes que por falta de limpeza atingem alturas proibitivas, sendo "alvos" fáceis para a disseminação de incêndios. Já um terreno cultivado e cuidado, onde são realizadas mondas periódicas das ervas daninhas e eliminação de outras espécies invasoras, o risco de incêndio é consideravelmente menor. Por outras palavras, é de ordenamento agrícola que aqui se fala.
Ao longo destes dias, tem sido realçado por diversas entidades e personalidades de diversas áreas do conhecimento, que a prevenção é a melhor arma para nos precavermos no futuro de eventuais episódios conforme os deste mês, e que têm acontecido com maior frequência nos últimos tempos, à semelhança dos anos de 2010, 2012 e 2013. E que prevenção tem de ser feita de imediato? Desde o repovoamento florestal com espécies mais resistentes ao fogo como o de algumas endémicas (til, vinhático, loureiro, barbusano), o castanheiro, a nogueira que levam muitos anos a crescer, mas que há que (re)começar o quanto antes, pois quanto mais tarde, pior para os de agora e para os que hão de vir. O incentivo de terrenos não cultivados ao arrendamento agrícola, com benefícios fiscais para os proprietários que os disponibilizassem e comparticipação total do pagamento da renda por parte do Governo Regional nos primeiros dois a cinco anos, no caso de serem instaladas hortícolas ou frutícolas e vinha a título de período de carência, respectivamente. Com a garantia de que as terras seriam sempre dos legítimos donos, pois entre nós reina a desconfiança que alugar explorações agrícolas é "meio caminho andado" para perder-se a titularidade. Por último, outra maneira ao alcance de todos e que pode ser feita já, enquanto consumidores, é que ao comprarmos hortofrutícolas locais estamos a aumentar a área agrícola e a diminuir substancialmente os baldios, e consequentemente o risco de incêndio no Verão e de derrocada no Inverno, pois os poios [regionalismo para socalcos] cultivados serão em todo o tempo devidamente ordenados e cuidados, com vantagens para os que cá vivem e para os que nos visitam!
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