Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 31 de Janeiro de 2016, na revista "Mais" do Diário de Notícias.
Em Janeiro de 2011 dava início à segunda série de textos do "Agricultando" sobre agricultura e gastronomia da Região no sector da hotelaria e restauração, pelo que se assinalam neste domingo cinco anos de textos de frequência mensal.
Anualmente, a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação consagra um tema para despertar a consciência pública, sendo que 2016 é o Ano Internacional das Leguminosas. O feijão, a fava, o grão de bico, a ervilha e a lentilha são alguns exemplos de leguminosas conhecidas por serem ricas em proteínas e por fixarem o azoto essencial para a fertilidade do solo e o consequente desenvolvimento das culturas. Além disso, são produzidas e consumidas amplamente em todo o mundo, e recomendadas para a prevenção de doenças crónicas e a obesidade. É pois essencial que os agricultores e os consumidores estejam sensibilizados para o seu valor, a sua utilização e os seus benefícios agrícolas e nutritivos. Na Madeira, o feijão é certamente o mais representativo por ter cultivares com características distintas, sendo bastante visível na paisagem agrícola e em pratos típicos como a sopa de trigo e o atum salpresado. A fava tem igualmente alguma expressão entre nós onde é cultivada em exclusivo ou consociada com a semilha [regionalismo para batata]. É muito apreciada em petiscos como as favas com molho de vilão, de escabeche ou torradas com sal, ou cozidas e servidas como acompanhamento. Façamos então uso regular das leguminosas pois estas trazem vantagens para a terra e outros cultivos, assim como para a nossa alimentação.
O Restaurante O Lagar (telefone: 291941866; www.olagar.pt) situado na Estrada João Gonçalves Zarco, número 478, freguesia e concelho de Câmara de Lobos, abriu a 1 de Dezembro de 1995, tendo como proprietários Quirino Figueira e Miguel Nóbrega. Tratando-se de uma casa que promove a nossa culinária, nada como começar com um bolo do caco com manteiga de alho, podendo juntar-lhe a um queijo fresco ou a uma dose de lapas grelhadas. No prato principal, a espetada com milho frito, batata frita regional e salada, a costeleta de vaca, ou se preferir os sabores e aromas do mar, o filete de espada à Lagar ou o bacalhau grelhado são os pedidos mais populares. Nas sobremesas, o indispensável pudim de maracujá ou uma fatia de tarte de requeijão cumprirão na íntegra uma refeição bem madeirense.
Os produtos agrícolas locais como a semilha, a couve, a alface, o tomate, a cebola, o pepino, entre outros são obrigatórios no Lagar, pois estes dão autenticidade às iguarias ali confeccionadas.
Este texto que deveria ter sido publicado na revista "Mais" do Diário de Notícias da Madeira de 27 de Dezembro de 2015, por razões excepcionais relacionadas com o planeamento dessa edição, foi incluído na revista "Mais" de 3 de Janeiro de 2016.
No final do ano, é usual fazer-se o balanço dos 12 meses, quer a nível pessoal, quer a nível de instituições públicas e privadas, bem como dos diversos sectores de actividade socioeconómica. A Agricultura é um desses sectores e gostaria de trazer aqui uma reflexão para aquilo que está ao alcance de cada um de nós. Consegue lembrar-se das vezes que este ano foi comprar hortofrutícolas e que se preocupou com a sua origem? E que dizer da sua frescura? Ou só esteve apenas atento ao preço? Cada um dos que lêem estas linhas terá as suas respostas, umas a favor da produção agrícola madeirense por serem mais frescos, outras que incluem produtos locais e importados, e outras ainda que revelarão indiferença no que à proveniência diz respeito, pois o que importa é o preço. Façamos então o seguinte exercício: suponhamos que uma família de quatro elementos faz uma despesa de cerca de 25 euros por semana em verduras e frutas. Ao fim de um ano, esse agregado familiar gastará 1.300 euros, dinheiro que se for despendido tendo em conta a origem local dos hortofrutícolas, terá necessariamente um impacto económico muito positivo. O mesmo raciocínio aplicar-se-á aos empresários da hotelaria e restauração com valores de compras superiores. É por isso fundamental que se dê preferência ao que é nosso, escolhendo os produtos regionais da época, pois ao termos essa atitude estamos a dar vida à Agricultura da Região e a quem dela depende, tornando-a forte economicamente e assegurando a paisagem agrícola madeirense, tão apreciada por nós e por quem nos visita.
O Restaurante Fora d’Oras (telefone: 291706655, com página no facebook) localizado na Rua da Casa Branca (junto ao Hotel Buganvília), freguesia de São Martinho, concelho do Funchal, abriu em 1991, na altura em que nesta cidade para desfrutar-se de algo para comer a horas tardias, era quase obrigatório rumar para a Zona Velha, havendo por isso a necessidade de surgir uma casa que servisse refeições além dos habituais picadinho, prego e caldo verde. Com cozinha aberta até às 2 horas da manhã, o Fora d’Oras (sem h, por uma questão de estética) é gerido por Gil Silva e Ricardo Ferreira, onde consta um bar que tem uma galeria de bolso, que é como quem diz, apresenta uma parede reservada para exposições temporárias. O letreiro luminoso deste restaurante refere que ali podemos saborear pratos italianos, indianos e portugueses, pelo que a escolha é vasta. Fica aqui um possível roteiro que pode ser iniciado com uma dose de chamuças de carne ou vegetariana, ou uma sopa de tomate fresco com ovo escalfado. Nos pratos principais, um bife à Fora d’Oras com queijo gratinado, um bife bife (em duplicado, a pensar nos bons garfos), uma espada de vinho e alhos com milho frito e batata doce, todos servidos com salada, ou um ‘tagliatelle’ à Al Capone com esparregado caseiro, são opções a ter em conta. Nas sobremesas, uma inédita mousse de chocolate branco com cobertura de frutos silvestres, uma tarte de maçã ou um "brownie" de chocolate para acabar com a boca doce. A frescura e o sabor das iguarias ali servidas são alcançadas pela primazia que é dada aos produtos agrícolas regionais como a alface, o tomate, o pepino, a cenoura, a curgete, a vaginha [regionalismo para feijão verde], a semilha [regionalismo para batata], a batata doce, os cogumelos, entre outros, e pelo saber-fazer de quem as prepara. Em Janeiro, tudo indica que o Fora (como também é conhecido) terá um novo menu onde estará mencionada uma espada com banana, mas sem banana. Confuso? Pela descrição que foi feita por Gil Silva, mas que ainda não pode ser divulgada, será uma agradável surpresa, em especial para os madeirenses que sabem que aquele prato é praticamente servido para os forasteiros e que nunca o provaram, pelo menos até agora.
Entretanto, caro leitor, resta-me desejar-lhe a continuação de Boas Festas e votos de um feliz 2016 com saúde para apreciar e degustar os nossos hortofrutícolas agrícolas à sua mesa e nas mesas dos seus restaurantes predilectos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.