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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 23 de Fevereiro de 2014, na revista "Mais" do Diário de Notícias.
Ao longo das estações surgem hortofrutícolas que contribuem para a diversidade da paisagem agrícola e da gastronomia madeirenses. Nesta altura do ano, é característico consumirem-se os "espigos" (regionalismo que designa as inflorescências tenras da couve) e o inhame. O mel-de-cana é usado nas "malassadas" e nos "sonhos" pelo Carnaval. Nos Santos Populares, temos o feijão maduro e as maçarocas que acompanham o atum salpresado. Pelo Verão, frutas como o tabaibo e o figo são procuradas pela sua frescura e sabor. No final do Estio e no Outono, temos as variedades regionais de pêros "Ponta do Pargo", "Domingos", "Calhau" e as maçãs "Barral" e "Cara de Dama", bem como as castanhas que são sempre apreciadas "quentes e boas". Pela Festa, há uma fartura de hortaliças como a "vaginha" (regionalismo para feijão verde), a couve repolho, a batata doce e de frutas, das quais se destacam a tangerina, o tomate arbóreo e a goiaba, entre outras. Como se percebe pelos exemplos acima referidos, a sazonalidade da oferta agrícola pautada pelas condições climáticas e de solo locais, a localização geográfica a norte ou a sul e o saber-fazer do Agricultor, são factores determinantes para a nossa identidade alimentar que foi criada desde o povoamento até aos nossos dias. Recentemente, a Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira manifestou novamente o desejo que a gastronomia tradicional da Madeira e do Porto Santo fosse declarada como património cultural regional pelo Governo Regional. A coincidir com este propósito, tive conhecimento através do Amigo Eng.º Manuel Pita que a Confraria Gastronómica do Alentejo em parceria com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e apoio de Associações de Desenvolvimento Local, publicaram em 2013 a "Carta Gastronómica do Alentejo – Monumenta Transtaganae Gastronomica" que está disponível gratuitamente através do endereço http://www.visitalentejo.pt/pt/imprensa-media/carta-gastronomica-do-alentejo/ . Trata-se de um levantamento do receituário regional daquela Região que ocupa um terço do território continental português. É um documento que regista as técnicas, as práticas, os produtos, as épocas e os nomes das receitas em uso nas cozinhas regionais de 204 freguesias alentejanas de um total de 250. Contém cerca de 1.200 receitas que foram recolhidas através da realização de inquéritos junto das populações. Contou com contributos de especialistas e investigadores como a Eng.ª Agrónoma Ana Soeiro, Secretária-Geral da Associação Qualifica e ex-quadro do Ministério da Agricultura, responsável pela qualificação dos produtos portugueses (a "Anona da Madeira" certificada com Denominação de Origem Protegida desde Junho de 2000 teve a sua preciosa colaboração), Dr. João Cotta Dias, Médico Veterinário, Professor Doutor Galopim de Carvalho, Arq.ª Maria Antónia Goes, Professora Doutora Antónia Fialho Conde, Antropólogo Paulo Lima (coordenador do inquérito às práticas culinárias), entre outros, que dão a conhecer a sua visão sobre esta temática e um enquadramento técnico, histórico e cultural. Julgo que é chegado o momento da Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira em cooperação com as Secretarias Regionais do Ambiente e dos Recursos Naturais e da Cultura, Turismo e Transportes, encetar um trabalho semelhante para a nossa Região, com o apoio da Universidade da Madeira, Associações representativas dos Agricultores, Autarquias, Casas do Povo e de todos aqueles que defendem os produtos da terra e do mar locais e a sua utilização na gastronomia madeirense. E que bom seria, ter uma "Carta Gastronómica da Madeira e do Porto Santo" a tempo das comemorações dos 600 anos do Descobrimento do Arquipélago da Madeira, para bem da nossa identidade alimentar e cultural!
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