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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 26 de Janeiro de 2014, na revista "Mais" do Diário de Notícias.
A segunda série de textos do "Agricultando" assinala neste domingo três anos de artigos mensais sobre agricultura e gastronomia regionais na vertente da hotelaria e restauração. Nunca é demais recordar que o sector do turismo beneficia directa e indirectamente da singular paisagem agrícola humanizada, do saber-fazer do Agricultor madeirense e da genuinidade dos produtos agrícolas locais. Os mil e um climas que se encontram na Madeira, o relevo e a altitude, as encostas norte e sul da Ilha, proporcionam o cultivo de hortofrutícolas de climas tropical, subtropical a temperado, tornando a gastronomia da Região ainda mais diversificada. Segundo o mais recente Recenseamento Agrícola de 2009, a população agrícola familiar constituída pelo produtor agrícola e pelos elementos do seu agregado familiar rondava as 41.000 pessoas, cerca de 15 por cento da população da Madeira e do Porto Santo. As explorações agrícolas madeirenses dedicadas à agricultura familiar representam 99 por cento, sendo que mais de três quartos têm uma área agrícola útil inferior a 5.000 metros quadrados (meio hectare). Neste ano em que se celebra o Ano Internacional da Agricultura Familiar promovida pela FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, os números atrás mencionados assumem uma importância especial. De acordo com aquela instituição, este tipo de agricultura contribui para a soberania alimentar, a preservação da biodiversidade agrícola e das tradições alimentares locais, a dinamização da economia regional e o bem-estar das populações. Cabe a nós, como consumidores, termos a consciência de adquirir e utilizar os nossos produtos agrícolas no dia-a-dia, bem como exigir a sua inclusão nos pratos preparados pela restauração, pois dessa forma além de usufruirmos da frescura e qualidade destes alimentos, estaremos a criar riqueza entre nós. O Restaurante Santo António (telefone 291910360, com página no facebook), localizado na Estrada João Gonçalves Zarco, número 656, freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, concelho de Câmara de Lobos, é um exemplo que a nossa gastronomia deve contar sempre com os produtos da terra. Fundada em Dezembro de 1966 por José Silvestre de Jesus, os seus filhos, Agostinho Isidro e Manuel Silvestre deram continuidade a esta casa que tem o nome do Santo Padroeiro de Lisboa e da Quinta que outrora existiu, onde agora está construído o restaurante. A título de curiosidade, refira-se que a Quinta de Santo António foi o primeiro prédio daquele sítio. Como restaurante típico, a entrada de eleição é o bolo do caco com manteiga de alho. Os pratos principais são a espetada de vaca com e sem osso, a costeleta de vaca e o bacalhau na brasa. O milho frito, a batata frita caseira com alho e orégãos e a salada com alface, tomate e pepino, muito bem temperada, são acompanhamentos indispensáveis. A terminar a refeição, o delicioso e refrescante pudim de maracujá ou o pudim de natas. A preferência pelos produtos regionais como a alface, o tomate, a cebola, o pepino, a semilha (regionalismo para batata), o abacate, o maracujá, entre outros e as carnes, é condição necessária para o aprimorar das iguarias ali servidas, bem ao gosto do residente e do forasteiro.
Este texto que deveria ter sido publicado na revista "Mais" do Diário de Notícias da Madeira de 29 de Dezembro de 2013, por razões excepcionais relacionadas com o planeamento dessa edição, foi incluído na revista "Mais" de 5 de Janeiro de 2014.
Neste tempo da Festa, onde há mais tempo para cozinhar e conviver com a família e amigos, é bom recordar a gastronomia da Madeira e do Porto Santo. Importa salientar que os pratos e outras iguarias confeccionadas ao longo de gerações, surgiram da necessidade da maioria da população em alimentar-se bem para fazer face a um dia de trabalho na fazenda ou nas lides da casa e, da disponibilidade local dos produtos da terra e do mar. Entretanto, com as alterações socioeconómicas e tecnológicas que aconteceram sobretudo a partir de meados dos anos 50 do século passado, perdeu-se um pouco a transmissão oral e prática da nossa cozinha, que acontecia de pais para filhos até então. Felizmente, existem pessoas e entidades que procuram passar para o papel este património cultural popular que de outro modo, perder-se-ia para sempre. Um desses exemplos é a Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira que lançou até à data dois livros, "Sabores – Receitas Tradicionais Madeirenses" em 2003 e "Maravilhas da Gastronomia Madeirense" apresentado no início de Dezembro de 2013. O primeiro livro "Sabores – Receitas Tradicionais Madeirenses" contou com o Chefe de Cozinha Júlio Pereira como autor. Nas 93 páginas desta publicação, percorrem-se os 11 concelhos da Região, com três pratos por município constituídos por sopa, prato principal e sobremesa. Como sugestões, podemos apreciar a sopa de castanhas da freguesia do Curral das Freiras (Câmara de Lobos), a sopa de abóbora e feijão do Porto Moniz, o caldo de romaria de São Vicente, a sopa de tomate e cebola do Funchal, passando pelo caldo de semilhas (regionalismo para batatas) com conduto de carne de porco da Ribeira Brava, a carne de cabra salgada e seca da Calheta, a carne da noite de Santana, a carne frescal de Santa Cruz e o coelho de Porto Santo, acabando este possível roteiro gastronómico com um bolo doce da Ponta do Sol e umas panquecas de abóbora de Machico. Mas há mais para consultar num total de 33 receitas. A segunda obra recentemente editada, "Maravilhas da Gastronomia Madeirense" conta com a coordenação do Vice-Presidente da direcção da Confraria Gastronómica da Madeira, Alcides Nóbrega. Trata-se de uma publicação bilingue (em português e inglês) com 122 páginas, 90 receitas e uma tiragem de 4.000 exemplares. Aqui, reforça-se a importância de se cozinhar os nossos pratos, iguarias e até bebidas, com os nossos produtos. Na nota do editor do livro diz-se mesmo que “(...) Um bom vício é ir aos mercados, talho, praça do peixe, à horta e escolher produtos frescos, regionais, e aí temos os ingredientes necessários para confeccionarmos refeições saborosas”. Além dos manjares que representam a gastronomia tradicional e contemporânea (como exemplo, um "risotto" com espada), há uma página que enuncia os objectivos da Confraria Gastronómica da Madeira, assim como uma descrição do traje dos confrades. O prefácio é da autoria do Secretário Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais e a introdução é assinada pelo Historiador Alberto Vieira, que de uma forma concisa diz que “(...) Hoje a nossa culinária é herdeira dessa herança cultural dos colonos europeus, das aportações dos forasteiros e rotas marítimas”. Acrescentaria que essa herança de séculos associada ao saber-fazer do nosso antepassado e aos produtos agrícolas locais foram determinantes para definir a gastronomia da Madeira, como algo de único e autêntico. A terminar, caro leitor, resta-me desejar-lhe a continuação de Boas Festas e um 2014 com muita saúde!
Depois de mais de seis anos de existência, é chegado o momento de "refrescar" a imagem deste blogue.
Nos próximos dias, haverá mais alguns ajustes.
Espero que gostem.
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