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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 25 de Dezembro de 2011, na revista "Mais" do Diário de Notícias. Neste dia de Natal, é bom recordar as tradições associadas à Festa. O título entre aspas deste "Agricultando" é o de um livro da autoria do Pe. Manuel Juvenal Pita Ferreira, "O Natal na Madeira: estudo folclórico", cuja primeira edição da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal foi lançada em 1956. Em 2010, a Secretaria Regional da Educação e Cultura através da Direcção Regional dos Assuntos Culturais, publicou a reimpressão da segunda edição, com uma tiragem de 1.000 exemplares. Esta curiosa obra retrata a intensidade com que o Natal era vivido na Madeira em meados do século passado, os usos e costumes das populações, profanos e religiosos. Nas suas 370 páginas, descrevem-se capítulos relacionados com a agricultura e gastronomia regionais, como "A Fornada do Natal", "O Jantar do Natal" e "Culinária e Doçaria do Natal", ficando aqui um resumo. A fornada de pão começava muito tempo antes, com o lançamento do trigo na terra em finais de Janeiro, “... depois do lavrador se descarapuçar, se benzer e reverentemente beijar a primeira "grafada" [garfada; mão cheia de trigo], que vai semear, foi ceifado, malhado, erguido e, depois de tirado o quinhão dos Santos e das Hóstias, guardado numa grande caixa, para ser amassado todos os sábados, se o lavrador é rico; nas principais festas, se é remediado.” O trigo da amassadura do pão da Festa era moído no início de Dezembro e com o resto da massa, coziam-se os "brindeiros" (pequenos pães) que se destinavam às crianças. A matança do porco, habitual nesta altura, era efectuada por todos, ajudando-se uns aos outros, bem como a cava da semilha nova. A lapinha de escadinha com frutas da época como a laranja, a maçã, a anona, a castanha, a noz, entre outras. As iguarias que enriqueciam a mesa na quadra natalícia, eram a canja de galinha, o cozido à madeirense com couve, semilha, batata doce, nabo, cenoura e bastante toucinho, a carne assada no forno com semilhas novas muito loiras e arroz e, a tão conhecida carne-de-vinho-e-alhos, carne de febra de porco que é curtida durante três dias com vinho, vinagre, alho, folhas de louro e sal. Tudo isto acompanhado com vinho da última colheita e como sobremesa, anonas e banana. Comia-se também a linguiça no norte da Ilha, o sangue de porco aproveitado e confeccionado de diversas maneiras como sarapatel, com molho de vilão e guisado e, o cuscuz com toucinho aos pedaços e passas. Quanto à doçaria, o bolo de mel de cana-de-açúcar e o bolo de família com cidra cristalizada, nozes, passas, entre demais ingredientes, assim como o bolo doce ou de noiva, são os bolos tradicionais desta época. Em suma, caro leitor, tem neste manjar, o melhor que a nossa terra dá e o saber-fazer de gerações dos nossos antepassados que criaram pratos únicos e muito deliciosos. Feliz Natal e um 2012 com muita saúde!
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