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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 20 de Setembro de 2009, na revista "Mais" do Diário de Notícias. No dia 9 de Setembro, completaram-se dois anos deste espaço de opinião quinzenal sobre Agricultura madeirense. O "Agricultando" de hoje é a respeito de duas variedades regionais de maçã, "Barral" e "Cara de Dama". Na Madeira, a macieira encontra as melhores condições de produção entre os 400 e os 850 metros de altitude na costa sul e na vertente norte, entre os 350 e os 750 metros de altitude. No presente, apesar da importação maciça de maçãs e da oferta local escassa, é cada vez mais importante, proteger as nossas variedades de macieira. Estas têm um aroma, sabor e textura diferentes daquelas que vêm do exterior, tendo por isso, muita procura. Além disso, estão bem adaptadas ao nosso clima, produzindo bastante e apresentando rusticidade, no que se refere às pragas e às doenças. No livro "Fomento da Fruticultura na Madeira" de 1947 do Professor Engenheiro Joaquim Vieira Natividade, a "Barral" e a "Cara de Dama" são assinaladas como pertencentes, provavelmente a tipos de maçãs inglesas. Este distinto agrónomo relata que “(...), é a "Barral", que supomos pertencer ao tipo "Bramley", (...), uma das mais populares "culinary apples" de Inglaterra, bastante vigorosa, rústica, produtiva e resistente ao fusicládio [pedrado], introduzida há muito na Ilha pelos ingleses”. Acrescenta que “além desta e, mais ou menos generalizadas [mencionando outras variedades], encontram-se a "Cara de Dama" (possivelmente a "Blenheim Orange", outra variedade popular em Inglaterra)”. Ao longo dos tempos, estas variedades ambientaram-se às condições edafo-climáticas locais e ganharam características organolépticas próprias, considerando-se por isso, regionais. A "Barral" é muito aromática, de casca amarelo-esverdeada e o seu aspecto sugere a "Reineta" verde. A "Cara de Dama" é amarelo-rosada e tem forma achatada. A colheita destas maçãs decorre em Outubro e Novembro. As duas têm um bom poder de conservação,mantendo-se em bom estado à temperatura ambiente durante quatro a cinco meses ou por um período maior, com recurso a câmaras frigoríficas. Noutro tempo, as freguesias do Santo da Serra, Camacha, Monte, Jardim da Serra, Canhas e Ponta do Pargo, eram apontadas como localidades produtoras da "Barral", enquanto que a "Cara de Dama" cultivava-se sobretudo no Santo da Serra. Nos nossos dias, existem em toda a Ilha, pois são recomendadas, quer pelos serviços da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, quer pela Associação de Agricultores da Madeira, no âmbito do Germobanco Agrícola. A continuidade da existência destas e doutras variedades regionais de macieira, passa pelo consumo em fresco e pelos derivados como o "doce" (compota), o bolo, a tarte, a sidra e o vinagre de sidra. Como já foi atrás referido, ainda é possível encontrá-las à venda, em quantidades reduzidas face à importação. Contudo, se recuperarmos o hábito de comprar pêros e maçãs madeirenses, estaremos a contribuir, não só para a sua preservação, mas acima de tudo, para a manutenção do meio rural.
Hoje completam-se dois anos deste espaço de opinião sobre Agricultura madeirense.
Em 9 de Setembro de 2007, surgia na revista do DN Madeira o primeiro texto sobre o "Pêro da Ponta do Pargo". Desde então, muitos leitores da revista e visitantes deste blogue (criado em 14 de Outubro de 2007) têm acompanhado o "Agricultando".
Muito obrigado a todos!
Este texto foi publicado no dia 6 de Setembro de 2009, na revista "Mais" do Diário de Notícias. O incontornável "Elucidário Madeirense" do Pe. Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses menciona que “(...) são cultivadas em larga escala na Madeira, a aboboreira que produz as abóboras a que os madeirenses chamam negras ou da Guiné (Cucurbita moschata), e a aboboreira que produz a abóbora machado (C. pepo)”. Há uma terceira espécie, cujo nome vulgar é a "boganga", existindo outras designações locais como "moganga", "abóbora moura" ou "tanarifa". A "da guiné" de excelente qualidade, é a predominante, podendo os seus frutos ser esféricos, ovados ou em forma de pêra. É colhida madura ou verde, sendo que no estado precoce, é conhecida por abóbora tenra ou aboborinha. Na Região, é frequente ver-se nos telhados e nos "terraços" das casas, as abóboras sazonadas, que por acção do sol, conservam-se por mais tempo. A "machado" ou "porqueira" de formato arredondado, cilíndrico ou piriforme, é cultivada acima dos 250 a 300 metros de altitude e na encosta norte. Em ambas as espécies, a polpa é amarela a alaranjada e as sementes brancas. A "boganga" ou "chila" como é chamada no continente, tem um aspecto oval, com casca branca, por vezes manchada de verde, polpa branca e sementes pretas. Quanto às pragas, temos os ratos, as lagartas, a "mosquinha branca das estufas" e os "piolhos", enquanto que as doenças habituais são a podridão cinzenta, o oídio ou "cinzeiro", as podridões radiculares e as viroses do mosaico das cucurbitáceas e do mosaico amarelo das aboborinhas. A época de colheita acontece de Maio a Novembro, de acordo com a localização geográfica, a altitude, as condições climatéricas locais, a espécie ou variedade e o seu estado de maturação. As abóboras têm múltiplas utilizações na gastronomia regional. A "da guiné" quando está madura, a "machado" e a "boganga" imatura, são confeccionadas em sopas e a "da guiné" tenra, quando cozida, serve de guarnição. Com a primeira espécie é possível transformá-la em apetecíveis derivados como o "doce" (compota), o pudim, os bolos, entre outros e com a "boganga", em compota de "chila". As sementes da "abóbora da guiné" e da "machado" tostam-se no forno e são salgadas, tornando-se num aperitivo muito agradável. Mas não é tudo, pois as abóboras "machado" e "boganga" também são usadas na alimentação animal. A "abóbora da guiné" e a "machado" são originárias do México e da América Central, respectivamente, ao passo que a "boganga" é oriunda da China. Como apontamento final, refira-se que esta hortense pertence à família das cucurbitáceas, onde constam hortícolas como a pepinela, o pepino, a cabaça e a melancia. A informação técnica sobre as espécies de abóbora foi obtida no sítio do SIR – Sistema de Informação Rural (http://www.sir-madeira.org), um projecto promovido pela Associação de Agricultores da Madeira. Aí encontram-se textos do Engenheiro Agrónomo Rui Vieira sobre as produções agrícolas regionais mais importantes. Falecido recentemente, quero prestar-lhe nesta ocasião uma simples, mas sentida homenagem. Bem-haja pelo que fez pela Agricultura madeirense!
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