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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 31 de Maio de 2009, na revista "Mais" do Diário de Notícias. Pepinela, caiota, chuchu... Estas três palavras correspondem à mesma espécie. A primeira designação é usada na Madeira, a segunda nos Açores e a terceira no continente e no Brasil. Localmente, também é conhecida por pimpinela, embora este nome vulgar seja provavelmente uma derivação popular de pepinela, que é a denominação correcta. Segundo o "Elucidário Madeirense" do Pe. Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses e o "Dicionário da Língua Portuguesa" da Porto Editora, a pimpinela significa uma rosácea e um género das plantas Apiáceas (antigamente, Umbelíferas), como a erva-doce. A pepinela é uma trepadeira herbácea que carece de um suporte, normalmente uma latada. Na Região, ainda é frequente vê-la sobre uma árvore que já tenha secado. A sua propagação é feita através dos frutos inteiros, que se colocam em pequenas covas, em Janeiro e Fevereiro. Ao fim de quatro a cinco meses, colhe-se a pepinela que pode ter forma piriforme, oval ou arredondada, a casca de cor verde ou branca, com espinhos ou "careca", consoante a variedade. É resistente a pragas e doenças, necessitando de regas amiúde na fase de frutificação, alguma fertilização e pouco mais. Esta planta é oriunda da América Central e botanicamente, pertence à família das Cucurbitáceas, onde constam a abóbora, o pepino, a melancia, o melão, entre outras. A Costa Rica é um dos principais países produtores, exportando para a Europa e para os Estados Unidos da América. Actualmente, é cultivada nos cinco continentes e em muitos lugares, é consumida no seu todo, isto é, para além do fruto, aproveitam-se as folhas tenras, os rebentos e a raiz para fins culinários. De acordo com o "Elucidário Madeirense", “a pepinela já existia na Madeira nos princípios do Século XIX, (...)”. Era e é típico observar-se estas trepadeiras nos quintais das casas, no Funchal e, nas zonas rurais, desenvolvendo-se com vigor. A nossa gastronomia utiliza as pepinelas "verdes", cozida em sopas e como acompanhamento com outras "verduras". As "brancas" dão origem a um saboroso e guloso "doce" (compota). É pois, um produto agrícola regional com grande procura ao longo do ano. Contudo, só no período de Maio a Novembro, é que existe oferta local, recorrendo-se à importação nos restantes meses. Estou convencido que a Madeira, pelo seu clima favorável, solo fértil, diversidade de variedades e locais de produção, bem como o "saber-fazer" do agricultor e dos técnicos do sector, possui excelentes condições para produzir pepinela todo o ano, a breve prazo, tornando-a assim mais rentável.
Este texto foi publicado no dia 17 de Maio de 2009, na revista "Mais" do Diário de Notícias. O seu nome desperta curiosidade, mesmo entre nós. É um tubérculo que cresce espontaneamente na freguesia do Curral das Freiras, concelho de Câmara de Lobos. O seu aspecto lembra um inhame pequeno, embora em termos botânicos, sejam espécies distintas. Habitualmente, é colhido nos meses de Abril, Maio e Junho. Em tempos, dada a dificuldade da população daquela localidade em obter alimentos, o brigalhó era por vezes a única alternativa para saciar a fome. Até ao presente, desconhece-se como é que se descobriu a utilidade culinária desta planta. É caso para dizer que, a necessidade despertou a criatividade humana, tal como sucedeu com outras iguarias da gastronomia regional e nacional. Este tubérculo só é comestível depois de cozer 24 horas com "azedas" e bastante água. Essa água é reposta durante a longa cozedura. No passado, cozinhava-se uma determinada quantidade, que era suficiente para uma semana, guardando-se na "loja" (arrecadação), para melhor conservação. Hoje em dia, o brigalhó é cozido ou frito e serve de acompanhamento ao atum de escabeche, sendo ainda aproveitado para a confecção de bolos. Quem quiser provar e saber mais sobre este tubérculo peculiar, tem uma excelente oportunidade para fazê-lo. No último domingo deste mês, irá realizar-se no Curral das Freiras, a VII Mostra do Brigalhó, organizada pela Casa do Povo local, pelo que se aconselha uma visita até lá. De ano para ano, este certame tem contribuído para a diversidade agrícola e gastronómica da nossa Região, pelo interesse que tem suscitado, quer por parte dos madeirenses, quer por parte de muitos turistas. Constata-se também que, ao longo das edições, a população local em geral e os agricultores em particular, têm correspondido a esse entusiasmo. A terminar, uma justa referência para a fundadora deste evento, a D. Arsénia Silva, a quem agradeço, por ter-me facultado informações sobre este produto.
Este texto foi publicado no dia 3 de Maio de 2009, na revista "Mais" do Diário de Notícias. A lentilha pertence à família das leguminosas, sendo "parente" próxima de culturas como o feijão, a fava, a ervilha, o grão de bico, entre outras. Trata-se de uma planta de ciclo anual, cultivada em sequeiro e que pode atingir 25 a 40 centímetros de altura. Ao fim de quatro meses, procede-se à sua apanha, aproveitando-se as pequenas vagens com duas sementes achatadas, em forma de lente, de cor verde, laranja, vermelha, castanha ou preta, consoante a variedade. As folhas e os caules são usados na alimentação animal. Originária do Médio Oriente, a lentilha faz parte da dieta humana desde data remota. Tradicionalmente, a Índia, o Paquistão, o Bangladesh, o Nepal, o Sri Lanka e outros países vizinhos, cujas populações são na sua maioria vegetarianas, consomem estas sementes, por serem ricas em proteínas. Nos nossos dias, esta leguminosa está espalhada por todos os continentes, destacando-se por ordem decrescente de produção, a Índia, o Canadá (principal exportador mundial) e a Turquia. O "Elucidário Madeirense" do Pe. Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses, refere que a lentilha era “frequentemente cultivada no Porto Santo” e também no Caniçal. Noutros tempos, no Natal madeirense e porto-santense, faziam-se "searinhas" de trigo e desta leguminosa para ornamentar a lapinha. Actualmente, é ainda cultivada na "ilha dourada", embora em pequenas quantidades, quando comparada com o passado. A sementeira realiza-se no final de Janeiro, início de Fevereiro e a colheita em Maio. Assim, tira-se proveito dos meses de Inverno, para que as chuvas possam irrigá-la e, os meses da Primavera, com temperatura e exposição solar favoráveis, contribuem para o seu crescimento e maturação. A secagem das sementes é efectuada ao sol, na eira, por forma que o teor de humidade diminua e desse modo, se aumente o tempo de conservação destas. A lentilha do Porto Santo é pequena, de cor avermelhada e com um sabor característico, sendo cozinhada de diversas maneiras, numa deliciosa sopa com carne de porco e migalhas de bolo de cevada ou acompanhada por umas fatias deste, cozida só por si ou com arroz. Em súmula, esta leguminosa ímpar que está associada à gastronomia porto-santense de outrora e de agora, deveria constar nas ementas dos hotéis e restaurantes locais. Ao fazerem isso, estariam a preservar e a estimular uma parte da agricultura daquela ilha, proporcionando aos visitantes mais uma experiência única de aromas e sabores.
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