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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 24 de Janeiro de 2010, na revista "Mais" do Diário de Notícias. No domingo passado realizou-se na freguesia do Seixal, concelho do Porto Moniz, a Festa de Santo Antão, padroeiro daquela localidade. É tradição também, que hoje aconteça lá no sítio do Chão da Ribeira, o "panelo". Segundo um texto publicado no número 9 de Fevereiro de 2008 da "Revista Municipal Porto Moniz", disponível na página da internet daquela Autarquia, conta-se que tudo começou nos anos 40 do século XX, quando um grupo de rapazes, subia a pé àquele vale (não havia estrada), com a finalidade de cuidar dos animais e amanhar os terrenos. Resolveram então juntar umas semilhas, couves e carne de porco acompanhada de vinho e, cozeram os produtos da terra e a carne numa lata, a servir de panela. Surgia assim o "panelo" que tinha lugar durante vários dias de labuta rural. Como facilmente se depreende pelo parágrafo anterior, o "panelo" esteve outrora associado à necessidade das pessoas que trabalhavam no Chão da Ribeira, puderem confeccionar aí o almoço, para que o dia fosse bem aproveitado. Actualmente, perdeu-se esse propósito inicial, mas ganhou-se um arraial "rijo", que ocupa um fim-de-semana inteiro num ambiente predominantemente agrícola. Cabe nesta ocasião mencionar, que o saudoso Senhor Geremias de Sousa, como dirigente autárquico, na década de 90 do século transacto, popularizou e adaptou o "panelo", como é conhecido no presente. É curioso ver neste exemplo, como a agricultura e a gastronomia locais estão interligadas. Aqui, constata-se mais uma vez, que a autenticidade de um prato, ou melhor dizendo, deste evento, apenas é atingida na sua plenitude, quando se usam os produtos da terra e a receita original. É bom que os mesmos se preservem ao longo dos próximos tempos. Uma parte do Chão da Ribeira é Laurissilva, a floresta indígena classificada pela UNESCO, como Património Mundial e a outra é caracterizada por uma vertente agrícola muito vincada. Os terrenos são na sua maioria, cultivados com semilha, couve, batata doce, entre outras hortícolas e algumas fruteiras de clima temperado, havendo algumas áreas reservadas ao pastoreio de gado bovino. É caso para dizer, que a agricultura e a pecuária devidamente ordenadas "convivem" harmoniosamente com a floresta, complementando-se. Importa realçar igualmente, o património edificado, como são os palheiros e os poios armados com as paredes de pedra aparelhada. É importante, que na sua recuperação se mantenha a traça inicial, respeitando dessa maneira, o legado dos nossos antepassados, que utilizavam os materiais que ali existiam. Só desse modo, contribuir-se-á para a manutenção de uma das paisagens campestres mais genuínas da costa norte da Madeira.
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