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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 25 de Janeiro de 2009, na revista "Mais" do Diário de Notícias. Os nossos antepassados que povoaram esta Região, ao verem um relevo difícil para a actividade agrícola, tiveram "engenho e arte" e criaram os poios. Segundo uma definição que consta no glossário do livro "Arquitectura Popular da Madeira" do Arquitecto Victor Mestre, os poios são uma “designação local dada aos socalcos das encostas escavados e agricultados; muros, contrafortes de contenção das terras seguindo a tecnologia tradicional”. Na publicação de 1953, "Madeira – A Epopeia Rural" do Professor Engenheiro Joaquim Vieira Natividade, este distinto agrónomo realça o trabalho notável dos socalcos e afirma a dada altura “(...) E o homem, o pigmeu, atacou a montanha. Durante séculos não cessou o trabalho rude da picareta e da alavanca, e à custa de vidas, de suor e sangue talharam-se na rocha as gigantescas escadarias, sem que o alcantilado das escarpas, a fundura dos despenhadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Monumento este único no mundo, porque jamais em parte alguma, com tão grande amplitude, tanto esforço humano foi empregado na conquista da terra.” É possível contemplar ao longo da Madeira, zonas rurais onde os poios se apresentam em múltiplos tons resultantes das diversas culturas hortícolas e frutícolas, lembrando um enorme mosaico natural. Os socalcos ostentam a pedra natural da Região, o basalto. Nos últimos tempos, algumas paredes de pedra aparelhada degradadas têm sido substituídas pelas de betão, por razões económicas. Porém, o impacto paisagístico de uma parede de cimento é bem conhecida de todos, quando comparada com uma parede de pedra. Trata-se de um património cultural rural singular que deve ser preservado e apoiado, sob pena de se perder para sempre uma parte da nossa identidade regional. No início de Dezembro passado, realizou-se na freguesia da Ilha, concelho de Santana, a XIV Semana Cultural dedicada à Cultura Sustentável. Num dos painéis subordinado à temática "Cultura, Agricultura e Dinâmicas Rurais", onde participei como orador juntamente com o Presidente da Associação Madeira Rural, Joel Freitas, este dirigente defendeu a existência de um roteiro turístico pelos poios. Esta actividade podia ser realizada em simultâneo nos passeios das levadas, reforçando assim a importância destes cursos de água na agricultura madeirense. Tenho a certeza que em muitos locais da Região, os agricultores que possuem socalcos próximos das levadas, estariam receptivos a esta iniciativa, podendo até vender directamente os produtos agrícolas ao caminhante, proporcionando-lhe mais um momento inesquecível, na descoberta de aromas e sabores "da terra".
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