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Textos sobre Agricultura madeirense no Diário de Notícias da Madeira (1.ª série, quinzenal - de 9.9.2007 a 13.6.2010; 2.ª série, mensal, de 30.1.2011 a 29.1.2017; 3.ª série, mensal de 26.2.2017 a ...)
Este texto foi publicado no dia 24 de Novembro de 2013, na revista "Mais" do Diário de Notícias.
No Outono, o fruto com mais significado desta estação é a castanha. A sua cor, aroma e sabor definem bem esta época do ano, em que os dias ficam mais curtos e as temperaturas descem um pouco. Na Região, a freguesia do Curral das Freiras, concelho de Câmara de Lobos é a mais emblemática desta cultura, mas há também soutos nos concelhos da Ribeira Brava (freguesias da Serra d’ Água e Campanário), Funchal (freguesias das zonas altas) e São Vicente. O castanheiro além de produzir saborosos frutos e madeira de grande qualidade, por adaptar-se bem a zonas de montanha, promove a conservação do solo em terrenos de grande declive, evita a erosão dos solos e embeleza a paisagem madeirense. Recentemente, celebrou-se no Curral das Freiras mais uma Festa da Castanha, que é o certame mais antigo de Portugal dedicado a este fruto e que ali se realiza há 30 edições, tantas quantas as vezes do segundo evento mais antigo e que ocorre em Marvão (norte alentejano), a Festa do Castanheiro/Feira da Castanha. Entre os dois acontecimentos existe uma semana e meia de diferença, pois a primeira tem lugar no dia 1 de Novembro (excepcionalmente este ano decorreu nos dias 2 e 3 deste mês), enquanto que a segunda acontece pelo São Martinho. Esta curiosidade, ainda desconhecida entre nós, soube-a por um livro do transmontano Dr. Jorge Lage, "Castanea – uma dádiva dos deuses" de 2005 (com 2.ª edição em 2006) e que em Junho editou a sua terceira publicação alusiva à castanha, "Memórias da Maria Castanha".
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Ao longo de nove capítulos e de mais de 300 páginas, o Dr. Jorge Lage faz um levantamento completo nesta obra, do vocabulário, das variedades de castanha, expressões, provérbios, receitas tradicionais e outros saberes etnográficos do castanheiro em Portugal. Fica-se a saber que esta cultura existe no nosso país há cerca de 8.000 anos e é considerada como a "árvore da vida" já que em tempos de escassez e de fome, a castanha era o único alimento que as populações tinham à sua disposição. A partir deste fruto obtêm-se derivados como o açúcar de castanha, café de castanha, cervejas, chocolate de castanha, iogurte, pasta de castanha para bolos, puré de castanha, rebuçados, entre outros. Porém, o livro tem muitas mais curiosidades para descobrir. A associação da castanha ao São Martinho e à prova do vinho novo, torna-a "esposa" ideal do vinho tinto. A Ilha dos Castanheiros é a Córsega e o país europeu que produz e consome mais este fruto, é a Itália. A castanha era tão importante que se usava como moeda de troca por louça, no Redondo, Idanha-a-Nova, Serra da Estrela (Seia) e Vila Pouca de Aguiar. Provérbios como “Agosto seco, castanhas no cesto, Agosto molhado, cestos empilhados” demonstram o "saber de experiência feito" que o calor ou a chuva naquele mês, fazem um bom ou mau ano de produção, respectivamente. A expressão “nos tempos da Maria Castanha” é ainda empregue no presente em alguns lugares, para relatar tempos muito antigos e neste trabalho conta-se uma lenda sobre esta mulher que viveu na Galiza no século XIV. A tradição de fazer colares de castanhas, quer frescas, quer piladas (secas e descascadas) pela Festa da Castanha, no Curral das Freiras. No que respeita à alimentação, referem-se diversos pratos de castanha de várias partes de Portugal, como as castanhas assadas com sardinha e a sopa de castanha do Curral, de sabor adocicado muito agradável, que outrora era preparada ao longo dos meses de Inverno e que nos dias de hoje, é confeccionada em especial na Festa da Castanha. Quanto às variedades de castanha (onde se incluem variedades madeirenses), contabilizaram-se cerca de 200 distribuídas por todo o país, sendo que 50 municípios do Continente, dos Açores e da Madeira são representativos deste fruto. Sobre a toponímia do castanheiro, constam mais de 800 topónimos em Portugal derivados dos vocábulos "Castanea" e "souto", o que mostra a relevância que esta fruteira teve em tempos remotos. Estes e muitos outros saberes, podem ser encontrados na obra "Memórias da Maria Castanha", uma edição de autor que merece a sua atenção (para encomendar, deverá contactar a Livraria Minho de Braga pelo telefone, 253271152 ou por email, lminho@livrariaminho.pt).
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